Brasília – O ex-presidente do PT José Genoino depôs nesta quinta-feira no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara, a convite do deputado Júlio Delgado (PSB-MG), relator do processo por quebra de decoro parlamentar do deputado José Dirceu (PT-SP).
Na terça-feira, Genoino já havia falado à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga as denúncias de compra de votos. No que diz respeito ao ex-ministro-chefe da Casa Civil, Genoino afirmou ao Conselho que toda a executiva do partido mantinha com ele uma relação "institucional".
"Dirceu não interferia nas questões do partido. Nunca conversei com ele sobre a situação financeira do PT. Nunca participei de reunião entre Dirceu e Valério [o empresário Marcos Valério de Souza], que assinou como avalista empréstimos para o PT concedidos pelo Banco Rural). E não tenho conhecimento de reuniões entre Dirceu e diretores do BMG e Banco Rural", disse ex-presidente do PT. "A minha relação com José Dirceu era política. Tudo muito franco e transparente. A nossa agenda dizia respeito ao espaço legítimo do partido e da base aliada no governo."
Nas quatro horas que passou no Conselho, o ex-deputado repetiu boa parte das explicações dadas à CPMI. Disse ao parlamentares que não tratava da parte financeira do PT, não tinha conhecimento dos empréstimos junto ao empresário Marcos Valério e não autorizou saques em nome do partido. Genoino disse ainda que conheceu Marcos Valério em eventos na sede do partido, acompanhado do ex-tesoureiro Delúbio Soares, não estabelecendo com ele relações de trabalho.
O ex-deputado descartou a possibilidade de o empresário ter sido enviado a Portugal a pedido do partido ou mesmo da presidência do PT. O presidente licenciado do PTB, Roberto Jefferson (cassado ontem pela Câmara), disse que um representante do PTB, Emerson Palmieri, teria recebido orientação de viajar a Portugal para negociar doações da empresa Portugal Telecom para campanhas do PT e do PTB. Valério teria acompanhado essa viagem.
"Minha atuação era estritamente política", afirmou Genoino. "Eu fechava os acordos políticos e as secretarias do partido tratavam das outras questões. Algumas despesas estavam previstas nos acordos (partidários). Mas mala de dinheiro direto para o PTB nunca houve. Aliás, nunca ouvi, recebi comentário ou participei de reunião onde se trocou apoio político por dinheiro", disse ele, em referência ao suposto repasse de R$ 4 milhões em dinheiro do PT ao PTB, conforme acusou Jefferson.
Assim como na CPMI, Genoino aproveitou o depoimento para refletir sobre alguns pontos em que considera que o PT falhou. Ele disse que, desde 9 de julho, quando renunciou à presidência do partido, se dedica à reflexões sobre os novos rumos que o PT deve tomar. Para Genoino, é necessário avaliar a necessidade de um distanciamento entre partido e governo.
"Todas as nossas administrações tiveram problema nessa relação entre partido e governo, a começar pela prefeitura de Luíza Erundina em São Paulo", lembrou Genoino, em referência ao governo da petista na capital paulista entre 1989 e 1992. "Todo partido existe para chegar ao poder. O problema é que tínhamos um modelo de chegar ao poder que não deu certo."
O ex-presidente do PT defende a separação entre a tesouraria do partido e os comitês de campanha eleitoral. A tesouraria seria encarregada apenas das contas do partido, e o comitê trataria do financiamento das campanhas. Genoino também defende a reavaliação do papel do marketing, dos shows e programas de televisão nos pleitos. Sobre a atuação do atual governo, ele aponta como "dívidas" a reforma agrária e o aumento salarial dos militares.