O prefeito de Sinop (MT), Nilson Leitão (PSDB), preso na Operação Navalha, acusado de receber R$ 200 mil em propina da Construtora Gautama, ignorou relatório produzido em 2005 no qual aponta superfaturamento de até 110% no projeto da rede de saneamento de esgoto da cidade. Contratada pela Câmara de Vereadores, a RMS Engenharia, de Fortaleza (CE), avaliou o projeto e entregou ao prefeito os custos da obra que em alguns itens a diferença de preços chegou a 400%.
Pelos cálculos da RMS Engenharia, a obra que está orçada em R$ 46,7 poderia ser concluída com R$ 22,2 milhões. De acordo com a auditoria da Câmara de Vereadores, a obra do sistema de esgoto, com extensão de 162 quilômetros de encanamento, e que iria beneficiar 40% da população, não segue o padrão adotado pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa) em obras semelhantes.
Nem mesmo os indícios de fraude na licitação e a disparidade de preços barraram a aprovação do projeto na Câmara, pois o prefeito tinha o apoio da maioria dos vereadores. Para fechar o contrato, o dono da Gautama, Zuleido Veras, foi pessoalmente a Sinop, distante 500 quilômetros de Cuiabá, assinar o convênio em 19 de março desse ano. "Pedimos uma auditoria porque consideramos que o preço da obra era exagerado e fomos tachados de loucos à época", conta o vereador Mauro Garcia (PPS), que foi um dos três vereadores a votar contra o projeto, ante sete parlamentares favoráveis ao prefeito.
Garcia pediu nesta segunda-feira (21) ao Ministério Público o adiamento da assinatura do contrato com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que deve ocorrer nesta quarta-feira, para liberar a primeira parcela, de R$ 13 milhões, para a obra, de um total de R$ 39 milhões. Em nota, a Assessoria de Imprensa da prefeitura diz que o prefeito desconhece "qualquer informação a respeito de superfaturamento no projeto do saneamento básico". A prefeitura informa ainda que a obra não será suspensa e que a concorrência entre as nove empresas foi feita de forma legal.