Analistas buscam interpretar o debate público entre Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil, e o ministro da Fazenda, Antônio Palocci. E entender a posição de Lula nessa disputa. O presidente parece ficar em cima do muro e, quando dois ou mais ministros, seus subordinados, discutem em público as políticas do governo, estão desautorizando o próprio presidente. A interpretação mais corrente e que parece explicar, sem justificar, é que o próprio Lula quer essa discussão e teria estimulado Dilma a cutucar Palocci com vara curta, buscando mudanças na política econômica. Mudanças quantitativas e não qualitativas.
Para o presidente, para a ministra e muitos outros hóspedes do Palácio do Planalto, além de membros do PT mais à esquerda e não poucos de seus opositores, a política econômica seguida pelo atual governo é a mesma da administração FHC, tocada por Pedro Malan. A obtenção de elevados superávites primários é o essencial, porque isso permite pagar parte considerável da dívida externa. Só que esse dinheiro faz falta para o desenvolvimento nacional e obriga à sonegação de verbas para programas essenciais, dentre eles os sociais, de saúde pública, saúde animal, educação, segurança e daí por diante. Ou seja, atende aos banqueiros, notadamente os investidores do exterior, com o dinheiro que está fazendo falta aqui dentro. Como conseqüência, o nosso desenvolvimento econômico é de pífios 3,5%, mantém-se alto o desemprego e é preciso um malabarismo de números para fazer o povo crer que as coisas vão bem.
Acontece que Lula aspira à reeleição, não dando a mínima para os escândalos que desgastaram e ainda desgastam o seu governo. Acredita que com um discurso bem popularesco e ênfase em programas sociais terá votos suficientes para permanecer no Palácio do Planalto. Para que isso aconteça, é preciso que Palocci não chegue, como chegou neste ano, de janeiro a setembro, a um superávit de 6,1% do PIB, quando a meta governamental oficial era de 4,25%. A economia que vem sendo feita para atender aos credores tem sido até maior que a recomendada pelo Fundo Monetário Internacional.
O plano seria jogar Dilma contra Palocci e levá-lo a manter a mesma política econômica de elevados superávites, só que em dosagem menor. Menor o suficiente para que sobre algum dinheiro para que projetos sociais sejam enfatizados. O governo começaria então a soltar dinheiro para seus planos de benemerência.
O problema é saber como Palocci vai interpretar essa interferência em sua política econômica. Para o ministro, se ela tiver que mudar, ele também se muda. Sai do governo. Mas o Planalto acredita que o ministro da Fazenda entenderá que mudar a dosimetria da política de aperto não significa mudar a essência da política econômica. E com isso se conformaria, ficando no governo. Senão, ?tchau mesmo?.
Lula deseja reeleger-se e, para isso, faria os sacrifícios que se impuserem. Sacrificaria até o ministro da Fazenda, a quem sempre devotou inabalável confiança. Resta saber se, face às condições políticas e em razão da crise, a candidatura à reeleição será factível, com ou sem Palocci. E a candidatura à reeleição ocorrerá, mesmo estando o PT esfacelado.
