Nesta última campanha eleitoral, oposição e situação estiveram em lados opostos na apresentação das idéias de governo. Idéias, pois planos ninguém apresentou. A oposição insistiu, por exemplo, na necessidade de reduzir o peso do governo, diminuindo-o e fazendo com que consuma uma parte menor do orçamento. Isso, para sobrarem recursos para investimentos. De parte do candidato à reeleição, o vitorioso Lula, o assunto foi abordado de forma distinta. Ele sempre insistiu que não era preciso reduzir a máquina governamental e que ela nem é tão grande como dizem. Que muitos dos ministérios que a oposição afirmava serem em número exagerado, não passavam de secretarias com elevado status, gabinetes com funções que precisam ser marcadas e nomes que precisam ser respeitados e gozar do prestígio de um ministro. Eles firmariam uma posição nas políticas governamentais sem aumentar sensivelmente as despesas do executivo.
Na opinião de Lula e de seu grupo, mantida depois de reeleito, o que se torna meta importante é conter a expansão dos gastos do governo e não reduzi-los. A maior produtividade, o combate à sonegação e outras artimanhas compensariam a teimosa manutenção de um Estado mastodôntico que exige dos brasileiros uma carga fiscal que é a maior do mundo, sem que o retorno esteja entre os melhores. O Brasil é um dos países onde a ação do Estado na obtenção do bem-estar coletivo figura entre as menos eficientes.
Estudos demonstram que a expansão dos gastos com o funcionalismo e os benefícios previdenciários já constantes de lei tornam quase impossível iniciar o ano de 2007, inaugural do novo governo (reeleito), com a estratégia anunciada de conter as despesas permanentes – de pessoal, custeio administrativo e programas sociais. Afigura-se impossível, ou pelo menos improvável, a ampliação dos investimentos públicos.
Cruzamento feito entre as previsões orçamentárias e as estimativas do mercado para o crescimento econômico demonstram que a despesa com pessoal e previdência subirá de 13,1% para um recorde de 13,4% do PIB (Produto Interno Bruto) no próximo ano. Tal acontecerá mesmo que não haja nenhum reajuste de vencimentos para o funcionalismo nem reajustes nas aposentadorias e pensões da clientela da previdência. A meta anunciada por Lula é reduzir as despesas correntes, ou seja, com pessoal e custeio da máquina governamental, em 0,1% ponto percentual do PIB. Impossível, pois exigiria um pouco provável corte de nada menos de R$ 10 bilhões no orçamento da união. Previdência e pessoal respondem por mais de 70% dos gastos correntes. Há outras despesas que são ou deveriam ser intocáveis, como saúde, seguro-desemprego, educação, benefícios sociais obrigatórios e o Bolsa Família, bandeira de frente da administração petista. Aí, a proporção sobe para 96% dos gastos correntes. Onde encontrar neste quadro brechas para reduzir as despesas correntes e aumentar os investimentos?
Não se trata de nenhuma discussão teórica, mas de empecilhos para os projetos do reeleito. É preciso aumentar a produção, empregos e um início de substituição das políticas sociais pelo desenvolvimento econômico, que reduz efetiva e permanentemente a pobreza.
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