Caiu como uma bomba sobre o mercado, embora muitos antecipem que o efeito não deverá superar o de um espanta-coió, aquele foguetinho de salão, a liberação de R$ 2,1 bilhões de recursos orçamentários da União para despesas de custeio e investimento até o final do ano.
Desse total, R$ 1,1 bilhão refere-se a emendas aprovadas por parlamentares cujos recursos foram encurralados na política de contingenciamento dos ministérios da Fazenda e Planejamento. Cerca de R$ 700 milhões, segundo o governo, serão remanejados para ministérios com maior capacidade de gasto.
A dificuldade para entender as motivações do governo avulta na medida que o anúncio da liberação dos recursos sai a pouco mais de vinte dias para o encerramento do ano, quando todos sabem que a máquina pública e o setor empresarial acabaram de ingressar na quadra em que é normal a diminuição do ritmo das atividades.
Outro quesito não explicado foi retardar a liberação do dinheiro reclamado com insistência por ministérios e outras instâncias ao longo do ano, mesmo diante de necessidades prementes, como acontece com as agências reguladoras, a bem dizer sucateadas e a ponto de entrar em colapso.
Quando se avalia a burocracia do serviço público, especialmente na efetuação de despesas que exigem licitações e a posterior manifestação de comissões internas, passa a ser mais uma quimera imaginar como os ministérios – mesmo os que têm maior capacidade de gastar – poderão valer-se do aporte financeiro em prazo tão exíguo.
Aliás, o governo cavou enorme vala de dúvida ao admitir que alguns ministérios têm maior aptidão para o gasto que outros. Ora, se é assim, como justificar a existência desses ministérios que sequer sabem onde aplicar os recursos do orçamento?
Ou a súbita descoberta do remanescente do núcleo duro é um tardio puxão de orelhas naquela fração de ministros de parca visão administrativa que pavoneia na Esplanada?
O ministro Jaques Wagner afirmou que a queda do PIB não influenciou em nada a decisão de liberar dinheiro a três semanas do fim do ano, mas se deveu ao excesso de arrecadação. Tampouco o governo está lançando mão de estratégia eleitoral, embora a última pesquisa apontasse a vitória de Serra.
A ação extemporânea do presidente Lula tem tudo para repetir o parto da montanha.