Brasília – O ex-governo do Rio Anthony Garotinho e seus partidários fizeram de tudo para atrapalhar a convenção realizada hoje pelo PMDB para definir se terá ou não candidatura própria à Presidência da República. Pré-candidato ao Planalto, Garotinho chegou às 11 horas ao evento, realizado no Senado, e provocou constrangimento ao exibir, de forma vitoriosa, uma liminar concedida pelo desembargador Joaquim Costa Carvalho, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. O documento suspendia os efeitos, mas não a realização, da convenção que mal tinha começado.
O ambiente foi tenso desde o início. Pouco antes da chegada de Garotinho, o grupo do ex-governador tentou adiar o início da votação, alegando que não havia convencionais em número suficiente. Na véspera, a cúpula do partido definira que a votação só começaria com a presença de pelo menos metade dos convencionais, ou seja, 264 num total de 528. O presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), decidiu abrir os trabalhos mesmo assim.
A briga ganhou fôlego com uma provocação feita pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), que exercia interinamente a Presidência da República porque o titular, Luiz Inácio Lula da Silva, está no exterior. Ao chegar à convenção, Renan afirmou que Garotinho não tem condições de ser candidato. "Garotinho que não come não cresce", ironizou, numa referência à greve de fome feita pelo ex-governador e encerrada na quinta-feira depois de 11 dias.
Ao ser informado da piada de Renan, Garotinho demonstrou irritação e avisou que a resposta viria na convenção. A mulher de Garotinho, Rosinha Mateus, governadora do Rio, o acompanhava e classificou a declaração de Renan de "palhaçada".
Amparado pelo médico Abdo Neme Neto e ao lado de um dos filhos, Vladimir, Garotinho reclamou do policiamento intensivo do lado de fora do Congresso, o que impedia o ingresso de militantes. "Colocar a polícia para impedir que o povo assista à convenção do partido é a maior demonstração da gênese (sic) ocorrida no partido pelas posições do senhor Renan Calheiros", afirmou. A maior parte da claque de Garotinho permaneceu no gramado em frente ao Congresso, onde um trio elétrico tocava jingles do ex-governador.
O outro pré-candidato do partido, o ex-presidente Itamar Franco, chegou a reunião pouco depois de Garotinho. Ao lado do principal fiador de sua candidatura, o ex-governador de São Paulo Orestes Quércia, Itamar não demonstrou muita confiança. "A minha candidatura vai depender disso aqui", disse, com ar desanimado. Ainda assim, o ex-presidente acabou saudado pelos partidários da tese da candidatura própria.
Por pouco não houve um tumulto mais grave, quando militantes de ambas as tendências trocaram empurrões. "Já não basta a presença de Garotinho dentro do partido e nós ainda temos que suportar essa claque desqualificada e agressiva", afirmou o ex-governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcellos.
Ao discursar em defesa de sua candidatura, Garotinho atacou Renan e os principais dirigentes do PMDB. "Se o PMDB não tiver candidato próprio, será carimbado como vendido ou seremos tratados como bando e quadrilheiros. O PMDB não é uma prostituta Não pode ir para cama com ninguém, a não ser com o povo brasileiro", disse.