Enquanto a maioria de seus colegas chega ao trabalho de ônibus ou bicicleta, o gari José Alves da Silva, de 27 anos, chega correndo. Uma distância de 13 km só de ida, sem contar a volta que, às vezes, também é feita correndo. Além da paixão pelo esporte, o motivo de tanta dedicação tem um objetivo. José quer chegar entre os dez primeiros lugares de sua categoria na 8ª Maratona Ecológica de Curitiba, que acontece neste domingo, 21.
Correndo, em média, 20 km por dia, José conseguiu um excelente preparo físico para enfrentar os 42.195 metros da prova. Em compensação, o único tênis dele, que já agüentou outras três maratonas, ficou praticamente sem sola depois de tantos quilômetros. Mas José deu um jeitinho nisso. "Comprar um tênis novo não dá. O jeito foi mandar "fazer a sola" num amigo meu que é sapateiro. E, se tudo der certo, chego entre os dez primeiros na prova", afirma ele, confiante.
Motivos para tanto otimismo é que não faltam. Em 2001, José começou a correr por insistência de um amigo. Com apenas um mês de treino, resolveu fazer a Maratona de Curitiba que, na época, estava em sua 5ª edição. Para surpresa dele, e dos amigos, José completou a prova em apenas 2 horas e 45 minutos. Um tempo que lhe garantiu o 12º lugar numa das categorias mais difíceis da prova, com atletas entre 20 e 24 anos. "Depois desta prova, vi que era isso que queria para minha vida", lembra ele.
Três anos depois, muita coisa mudou na vida de José, menos sua paixão pela corrida. Há dois anos, ele começou a trabalhar como gari, oito horas por dia, seis vezes por semana. Mesmo assim, continuou treinando. Acorda às cinco horas da manhã, vai correndo até o trabalho, passa oito horas varrendo ruas, volta correndo e à noite, lava roupa, arruma a casa e prepara a marmita para o dia seguinte. "Correr é a melhor coisa do meu dia. A mulher que quiser casar comigo, vai ter que entender isso", diz José que, por enquanto, está solteiro.
José participou das Maratonas de 2002 e 2003, mas não teve a mesma sorte da primeira. Em 2002, correu com uma forte gripe e fechou a prova em 3h e 30 minutos. E, no ano passado, torceu o pé durante o percurso e completou a prova mancando. "Só terminei essas provas por que meus amigos tinham pago minha inscrição e ia ficar chato desistir", conta José.
Domingo, quando for dada a largada da prova masculina, às 7h30 da manhã, José será apenas um entre os cerca de 2.000 atletas que irão disputar a prova. Mais um anônimo em busca de superação, reconhecimento e, principalmente, realização pessoal.
Assim como José, dezenas, quem sabe, centenas de pessoas, estarão correndo com um tênis velho. Outros, com o melhor modelo da melhor marca. Em comum, o desafio de enfrentar os mesmos 42.195 metros cumprindo assim mais um degrau rumo ao sonho que cada um tem para si mesmo.
José sabe muito bem qual é o dele. "Meu sonho é um dia vencer uma maratona, virar um profissional e ganhar dinheiro fazendo aquilo que mais gosto, que é correr", diz ele. Nada é impossível José. E como ele mesmo diz: "Em maratona, quanto mais desconhecido for o atleta, melhor é".