A Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), entidade representativa dos grandes produtores rurais e criadores, publicou previsões concernentes ao desempenho da economia no presente exercício. Não há otimismo de parte da instituição que, ao contrário, manifesta-se preocupada com a retração de 1,88% do agronegócio em 2006.
No âmbito geral da agropecuária, tendo em vista a queda de 0,98% do PIB do agronegócio e de 1,88% da agropecuária na primeira metade do ano, a CNA não teve alternativa senão revisar a estimativa para o ano, estimando uma queda de 3,72% até 31 de dezembro. Esses números configuram a retração de 0,4 ponto percentual no crescimento da economia como um todo.
Para se ter idéia da relevância da renda gerada pela agropecuária brasileira, o PIB de 2006 poderia crescer algo em torno de 3,9%, ao invés dos pálidos 3,5% previstos pelo próprio Banco Central. O pior cenário foi desenhado pela CNA ao admitir que haverá menos 10 mil empregos na zona rural, apesar da leve perspectiva de melhora que alguns setores estão prognosticando.
Dessa forma, os altos índices registrados nas exportações de produtos agrícolas, alguns deles batendo recordes, derivam do aumento do preço médio por tonelada embarcada para o mercado externo, o que não evitou a diminuição da renda dos produtores. Como nunca, a agropecuária se afigurou tão drástica para os que vivem dela.
A CNA apontou como causa básica da queda do PIB do setor os baixos preços pagos ao produtor no mercado interno. O volume exportado no primeiro semestre, em se tratando do agronegócio, chegou a US$ 32 bilhões, cerca de 11% maior que o valor auferido pelo setor em igual período do ano passado. O problema é que a parte da produção destinada ao mercado doméstico – 80% – não é remunerada na mesma proporção dos preços operados no mercado externo, daí resultando a obtenção de renda menos compensadora para os produtores rurais. As dificuldades momentâneas vividas pelo agronegócio se avolumaram, na medida que nem o aumento da produtividade foi suficiente para tornar menos pesadas as perdas do primeiro semestre.
Até o mês de junho, o PIB agrícola acusou queda de 1,46%, apesar do aumento de 1,89% na tonelagem produzida. Os preços médios dos produtos agrícolas na comercialização interna despencaram 3,29%, sendo este o elo fundamental da aparente contradição: o produtor produziu mais, mas faturou menos. No caso da pecuária, a queda do PIB foi de 2,41% e o corte na cotação dos preços médios chegou a 4,16%, embora no período a produção total tenha crescido 1,83%.
A charada encontra parte da explicação na perniciosa carga tributária, rigor do aperto monetário, juros elevados e arrefecimento da demanda externa em função da valorização do câmbio. Um conjunto de elementos que o produtor não controla, à semelhança da instabilidade climática, outro vilão recorrente a atazanar a vida de quem se dedicou à produção agropecuária para ajudar o País a expandir suas metas de crescimento sustentável.
Consciente dos riscos permanentes e inesperados, nas últimas safras o produtor tem clamado em vão por instrumentos governamentais de proteção, como seguro rural e preços mínimos, pelo menos, a fim de trabalhar com garantias efetivas.
