O ex-presidente do Banco Central, Ibrahim Eris, acredita que os agentes do mercado financeiro ainda não adicionaram aos preços dos ativos todo o risco embutido na crise política. Para ele, há uma dicotomia "entre a ganância e o medo" dos investidores, sendo que a primeira força ainda prevalece.
Isso explicaria, em parte, o fato de a economia estar resistindo a atual turbulência política. "A menos que a crise política chegue às portas do ministro Palocci (Antonio Palocci, da Fazenda) e do presidente Lula, não estamos caminhando para uma crise econômica decorrente da crise política", disse.
Embora diga que hoje é uma temeridade fazer qualquer declaração mais positiva sobre os próximos passos da crise, Eris tem convicção que "o governo Lula acabou em todos os sentidos". Segundo ele, mesmo que o presidente permaneça no poder até o fim do seu mandato, o governo vai funcionar "na base do feijão com arroz" daqui para frente. Isso implica a manutenção da atual política econômica, mas sem nenhum avanço.
O ex-presidente do BC vê com apreensão os desdobramentos da crise atual. Há dois ou três meses, segundo ele, as eleições de 2006 eram "irrelevantes" para o mercado financeiro, já que as duas possibilidades – ou Lula seria reeleito ou o vitorioso seria do PSDB – eram consideradas positivas pelos agentes financeiros.
Agora, a situação é complicada e imprevisível. Na hipótese de ser reeleito, avalia Eris, Lula terá apoio de um PT menor e com mais apoio das forças de esquerda, o que implicará mudanças da atual política econômica. Da mesma maneira, o ex-presidente do BC prevê que Lula teria dificuldades ainda maiores do que as atuais para ter maioria no Congresso Nacional.
Eris também teme que cresça na sociedade a idéia de que "todos os políticos são farinha do mesmo saco", porque isso abriria espaço para um aventureiro, que poderia ser eleito em cima de uma plataforma populista.
