Os líderes do G-8 deram ao diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, mais prazo para promover a conclusão dos pré-acordos da Rodada Doha nas áreas agrícola e industrial. Em um documento que pegou de surpresa a delegação brasileira, assinado hoje na cúpula de São Petersburgo, o G-8 atropelou o apelo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentará no encontro de amanhã, para o qual o Brasil e outras cinco economias em desenvolvimento foram convidados
Lula ainda pretende cobrar nesta segunda-feira dos líderes presentes as concessões políticas necessárias para destravar a Rodada e que, hoje, ultrapassam os limites de ação dos seus negociadores. Seu discurso, entretanto, deverá perder o impacto esperado pelo governo brasileiro, assim como os recados enumerados pelo grupo das economias em desenvolvimento – Brasil, Índia, China, México, África do Sul e Congo -, que se reuniu sob a coordenação de Lula
No segundo dos sete parágrafos do documento, os líderes do G-8 deixaram claro que Lamy terá "mais um mês", ou seja, até o dia 17 de agosto, para romper as intransigências e aproximar as posições sobre os três principais impasses – a abertura de mercado agrícola, o corte de tarifas na área industrial e a redução de subsídios concedidos a agropecuaristas. O prazo anterior encerraria em 31 de julho. Também enfatizaram a necessidade de finalizar o acordo final da Rodada, com "alto nível de ambição em todas as áreas", até o final de 2006
Em nenhum momento, o G-8 indicou a necessidade de convocação de uma reunião de chefes de Estado para tomar decisões cabíveis para dissolver os impasses da Rodada, como vem defendendo o presidente Lula desde o final de novembro do ano passado. O fracasso das negociações dos pré-acordos sobre agricultura e indústria, que deveriam ter sido concluídos nos encontros ministeriais da OMC nos dias 29 de junho e 1º de julho, em Genebra, foi lamentado
Porém, o G-8 assinalou como acertada a decisão dos seis parceiros mais influentes na organização – Estados Unidos, União Européia, Japão, Brasil, Índia e Austrália – de reforçar o papel de Lamy como mediador e facilitador desses pré-acordos, com prazo até 31 de julho. Quando o G-8 tomou esse decisão, Lamy ainda não havia desembarcado em São Petersburgo. Sua apresentação de um relato sobre a situação atual da Rodada estava previsto para a reunião da manhã de hoje do G-8 ampliado
Ainda sem conhecer o conteúdo do comunicado do G-8, o presidente Lula concedeu uma entrevista à imprensa na qual reforçou sua versão de que a Rodada chegou a uma situação limite em nível de negociadores e reiterou a necessidade de decisões políticas. Questionado se o documento do G-8 turvaria sua proposta de destravar a Rodada por meio de decisões políticas dos líderes mundiais, Lula insistiu que as negociações deixaram de ser econômicas para tornarem-se políticas – argumento que respalda seu apelo em favor de decisões de líderes
Considerando-se "otimista" com o desfecho da Rodada neste ano, agregou que os dois documentos assinados ontem, do G-8 e dos seis países em desenvolvimento, terão de ser "confrontados" na reunião. "O que nós (os líderes) precisamos é dar a ordem de que queremos um acordo. Há um documento do G-8 e há um documento nosso. Amanhã, vamos confrontar os dois documentos, e é possível que saia uma coisa diferente", afirmou
Confrontado com prazo adicional concedido pelo G-8 para as negociações, Lula reagiu positivamente. Mesmo surpreendido pela versão final do documento do G-8, que justamente incluiu esse prazo, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, o avaliou como "realista", um "bom sinal" e uma resposta de "urgência". Negativo, para ele, seria o G-8 dar um prazo de seis meses, o que significaria o aborto imediato das negociações
