Brasília (AE) – Depois de quatro meses na ribalta, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) deve sair da cena política amanhã (14). Mas não o fará sem antes apontar seu estoque de acusações em direção ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em Brasília, hoje (13), Jefferson sugeriu dispor de surpresas para a sessão de votação do pedido de cassação de seu mandato, marcada para às 14 horas de amanhã.

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Perguntado se acusaria Lula de conhecer o esquema do ‘mensalão’, o suposto pagamento a deputados da base aliada, Jefferson foi irônico: "Vou falar "beeeem" do presidente Lula e desse núcleo duro dele", disse, sorrindo. O deputado disse, também, estar pronto "para o que der e vier". "Eu tenho de passar por ele (presidente). (O meu discurso) passa pelo governo dele (Lula)", disse.

Depois de ameaçar a sessão, em protesto a determinãção do presidente Severino Cavalcanti (PP-PE) de presidi-la, a oposição garantiu presença em plenário. Assim, a cassação de Jefferson é apontada como certa. Hoje Jefferson sofreu uma derrota que se configura como uma avant-première da votação de amanhã no plenário. A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ) rejeitou o recurso apresentado pelo deputado contra a decisão do Conselho de Ética que pediu a cassação de seu mandato.

Em seu recurso, Jefferson alegou que não teve direito de defesa. O relator do recurso, deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), entendeu que foi dado amplo direito de defesa a Jefferson.

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Jefferson deverá perder o mandato por quebra de decoro parlamentar. Contra ele, segundo o relator de seu processo no Conselho de Ética, Jairo Carneiro (PFL-BA), pesa, entre outras, acusações de "abuso da inviolabilidade parlamentar", por fazer as acusações sobre a existência de um suposto esquema de pagamento de mensalão". O processo foi aberto a pedido do presidente nacional do PL, Waldemar Costa Neto.

Carneiro acusou Roberto Jefferson ainda de ter se omitido sobre o esquema do "mensalão" por mais de um ano, o que também representa, a seu ver, quebra de decoro parlamentar. Se cassado, Jefferson promete virar cantor. Nesses quatro meses, o parlamentar carioca dominou a cena com entrevistas perfomáticas e três depoimentos no Congresso – Conselho de Ética, CPI dos Correios e Mensalão.

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A crise do governo Lula guarda sincronia com as revelações homeopáticas de Jefferson, que atingiram em cheio o principal assessor palaciano, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Na origem da crise está a denúncia que o deputado fizera que uma mesada de R$ 30 mil fosse paga a parlamentares do PL e do PP para que votassem assuntos de interesse do governo.

O baú de revelações de Jefferson foi aberto com a revelação da fita de vídeo de que o diretor dos Correios, Maurício Marinho, recebendo uma propina de R$ 3 mil supostamente em nome do PTB e do deputado.

Conhecido por integrar a "Tropa de Choque" do ex-presidente Fernando Collor de Mello, truculento e conservador Jefferson surpreendeu as platéias com um discurso nada titubeante e agressivo, técnica obtida em anos de tribunal de júri como advogado.

Cada palavra, cada entrevista, cada gesto, tudo foi calculado, produzindo resultados imediatos e baixas no governo e no próprio Congresso. Com a máxima "sai daí rapidinho", Jefferson provocou a saída de Dirceu.

As investigações desencadeadas pelas revelações de Jefferson trouxeram à tona a figura do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, apontado como operador do ‘mensalão’ e mostraram a existência de saques em dinheiro por parte de parlamentares e assessores que deram credibilidade as denúncias do deputado.

Até hoje à noite dois parlamentares haviam renunciado a seus mandatos por causa das acusações, Carlos Rodrigues (PL-RJ) e o próprio Valdemar Costa Netto (PL-SP), autor do pedido de cassação de Jefferson. Resta saber se o discurso que fará em sua defesa no plenário terá o mesmo poder de fogo.