Futebol disputa com o rúgbi os torcedores de Pretória

Capital administrativa da África do Sul, Pretória nunca foi uma cidade em que o futebol teve campo aberto, ao contrário do rúgbi, esporte preferido dos brancos durante o regime do apartheid. A Copa do Mundo que começa na sexta-feira pode mudar esse jogo, no entanto, se os Bafana Bafana vencerem o México na partida de abertura.

“Eu prefiro o rúgbi, mas não tenho nada contra o futebol”, afirma o africâner Bruce Esterhuizen, descendente dos primeiros colonos europeus que chegaram à África do Sul. “Vou torcer pelo meu país e pela minha seleção”, acrescenta este homem de 39 anos, morador da favela de nome Tshwane.

Fundada em 1855 por colonos que fugiam da autoridade britânica, a atual sede do governo sul-africano conservou ao longo dos anos uma forte identidade africâner. A comunidade branca de Pretória, quase 30% da população, ama de paixão o Super 14, competição entre times da África do Sul, Austrália e Nova Zelândia.

Historicamente, Pretória nunca deu muita bola para o futebol, esporte que sempre agradou muito mais aos sul-africanos negros.

O encontro entre os anfitriões e os mexicanos na sexta-feira pode, enfim, derrubar a barreira entre as raças que existe na cidade. “Se os Bafana Bafana ganharem, todo o mundo vai acompanhá-los”, prevê o morador.

Na opinião de Esterhuizen, o Mundial é a grande oportunidade para os moradores de Pretória jogarem todos no mesmo time, tal como aconteceu com o rúgbi, durante a Copa do Mundo que a África do Sul recebeu em 1995. A mobilização foi tamanha que deu origem ao filme “Invictus”, de Clint Eastwood.

O primeiro presidente negro do país, Nelson Mandela, foi capaz de fazer com que a maior parte da sua etnia torcesse pela seleção sul-africana durante esse evento esportivo. O resultado se viu na prática: os Springboks levaram a melhor na final apenas um ano depois de o apartheid cair.

Quinze anos depois, são poucas as chances de os Bafana Bafana alcançarem tal façanha, já que amargam a 83ª posição no ranking da Fifa.

Para Gerhard e Riekie Rudolph, o primeiro passo para a reconciliação de brancos e negros já é a própria Copa do Mundo. Esse casal de Pretória foi no mês passado a Soweto, famoso reduto negro de Johannesburgo, para torcer pelos Blue Bulls, time de rúgbi da cidade que enfrentou os neozelandeses do Canterbury Crusaders nas semifinais do Super 14.

Durante essa partida, realizada no estádio Orlando, curiosamente um templo do futebol, os moradores de Soweto ficaram cara a cara com os torcedores brancos de rúgbi, muitos deles pela primeira vez nessa região histórica de Johannesburgo.

Os amistosos de preparação para este Mundial mobilizaram muitos africanos, inclusive os de Pretória. “É uma cidade essencialmente de rúgbi. Futebol é coisa de mulherzinha”, dispara John Wilkison, de 75 anos, que admite, no entanto, ter visto o amistoso entre o país anfitrião e a Dinamarca na semana passada. Os africanos fizeram 1 a 0. “Eu gostei. Na verdade, até mais do que esperava”, conclui este ex-jogador de rúgbi.

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