O furto de energia elétrica movimenta cerca de R$ 5 bilhões por ano e esse custo recai sobre os consumidores que pagam as suas contas em dia. O cálculo foi apresentado pelo superintendente de regulação da comercialização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Ricardo Vidinich, em mesa-redonda para discutir o assunto.
A Aneel chegou a esse número após concluir o processo de revisão tarifária de 59 das 64 principais distribuidoras de energia elétrica do País. Segundo ele, os furtos somaram 15.298 GWh em 2004, enquanto as perdas técnicas, inerentes ao setor elétrico, consumiram outros 22.383 GWh no mesmo ano.
Vidinich disse que os dados não são homogêneos, com o problema sendo mais acentuado em algumas regiões. A Manaus Energia, estatal responsável pelo abastecimento da capital do Amazonas, contabilizou perdas equivalentes a 24% do seu faturamento, muito acima do registrado nas distribuidoras da região Sudeste, onde as perdas estão abaixo de 5%, à exceção do Rio de Janeiro. Nesse Estado, as duas distribuidoras (Light e Ampla) registraram casos agudos de furto de energia e as duas empresas têm adotado estratégias específicas para combater o problema.
O diretor de relações institucionais e comunicação da Ampla, Carlos Evandro Moreira, apresentou o caso da empresa, afirmando que a empresa está conseguindo avanços significativos no combate ao furto. "Estamos há três meses com índices abaixo de 20% de perdas em relação ao total vendido", informou. Segundo Moreira, um diretor da espanhola Endesa, que controla a distribuidora fluminense, veio ao Brasil para comemorar os resultados. "É irônico comemorar perdas abaixo de 20%, mas essa é uma realidade", observou.
Moreira disse que para "cada problema" a Ampla desenvolveu uma "vacina" específica, mas a empresa tem consciência hoje de que o problema não é provocado apenas por questões socioeconômicas. Ele observou que "há décadas" alguns consumidores da Ampla, que atuam no interior fluminense, têm acesso à energia elétrica sem pagar a conta e relutam em ter de pagar. "Está difícil mudar esse quadro, mas estamos registrando progressos", relatou. Segundo ele, dos 2,3 milhões de clientes da distribuidora, cerca de 600 mil praticam algum tipo de furto.
O executivo contou que surgiu até um movimento na região de São Gonçalo, segunda cidade mais populosa do Estado do Rio (após a capital), denominado "Fora Ampla", com jornais e panfletos. "Até uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi instalada na Câmara dos Vereadores da cidade", comentou.
"Estamos conseguindo progressos, mas o mercado (fraudadores) é muito ativo e está desenvolvendo novas formas de manter a situação. Por isso, estamos monitorando o que está ocorrendo", contou. Segundo Moreira, quando a empresa altera a rede de baixa tensão, elevando os fios para a altura de 9,5 metros (o normal era de 6,5 m) e instala os medidores eletrônicos, o índice de furto cai para praticamente zero. Só que aí o consumidor fica sem condições de pagar a conta. "Por isso estamos atuando também na questão social para gerar renda e viabilizar o pagamento da conta", complementou.
