Rio (AE) – Como acionistas controladores, os fundos de pensão Petros, Previ e Funcef alegam nunca terem partilhado dos lucros que a Brasil Telecom obteve desde a privatização, em julho de 1998, como informou o banqueiro Daniel Dantas em depoimento às CPIs dos Correios e do Mensalão. De acordo com informações de representantes dos fundos, os dividendos não chegavam aos investidores porque ficavam bloqueados por decisões de conselho nas inúmeras "empresas de papel" montadas pelo grupo Opportunity e que formavam um intrincado organograma que separa a operadora de seus acionistas.
Por causa dessa rede de empresas, os fundos não são acionistas diretos da BrT, mas sim de uma sociedade de propósito específico (SPE) chamada Newtel. "Essas empresas formam uma espécie de escada e o Daniel Dantas nunca deixou os dividendos subirem até o último degrau. Para as ações negociadas diretamente em Bolsa de Valores foram distribuídos dividendos, mas não para as ações do bloco de controle. Em vez de entregar os dividendos aos sócios, o administrador tomou a decisão de reinvestir esse dinheiro. Este foi um dos motivos dos questionamentos que passaram a ser feitos a partir de 2000", diz Ricardo Malavaze, diretor financeiro da Petros.
Outro ponto do depoimento de Dantas que causou indignação entre os administradores dos fundos de pensão foi o da compra da Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT) pela Brasil Telecom. O banqueiro relatou que a operação, efetivada ainda na gestão Fernando Henrique Cardoso, teria causado prejuízo à BrT de US$ 250 milhões, devido às pressões feitas pelos fundos para que a operadora fosse adquirida por US$ 800 milhões e não pela faixa que teria sido sugerida pelo Opportunity, entre US$ 550 milhões e US$ 600 milhões.
Luiz Tarquínio Sardinha Ferro, presidente da Previ (Banco do Brasil) à época, afirma que toda a negociação, inclusive a fixação de preço, foi conduzida pelo próprio Opportunity. "A confusão toda entre os fundos e o senhor Daniel Dantas começou justamente em 2000, entre outras coisas por causa do tratamento indigente que recebemos com relação à prestação de contas dos ativos que o Opportunity administrava para nós. Quem comandava o processo de compra da CRT não éramos nós, mas a BrT e o Opportunity. Nas duas últimas reuniões que tivemos com eles, nossa orientação foi clara: `Compre pelo menor preço’. Não há sentido querer alegar que a Previ tentou conciliar interesses da BrT, que era o de comprar mais barato, com o dos vendedores, de vender mais caro", afirma Tarquínio, hoje presidente da Fundição Tupy.