A moradora mais velha de Palmital dos Pretos, na zona rural de Campo Largo, Região Metropolitana de Curitiba, Bernadete Gonçalves dos Santos, 71 anos, recebeu nesta quinta-feira (06) o certificado da Fundação Cultural Palmares, do Ministério da Cultura, que reconhece a comunidade como remanescente de um quilombo. A entrega foi feita pela diretora de Patrimônio das Comunidades Tradicionais da Fundação, Maria Bernadete Lopes da Silva, que disse que o documento tinha a mesma importância de uma certidão de nascimento para uma criança. ?A comunidade agora passa a ter direitos e a ser assistida pela União, Estado e município?, garantiu.
A Fundação Cultural Palmares já certificou 850 comunidades quilombolas em todo o país. A estimativa inicial era de registrar em torno de 100 comunidades remanescentes de quilombos. ?Descobrimos 103 comunidades somente no Rio Grande do Sul, e, no Paraná, onde se dizia não haver negros, já são 14 comunidades certificadas e outras 26 em fase de reconhecimento?, disse Maria Bernadete.
A comunidade de Palmital dos Pretos tem 250 anos e está localizada a 55 quilômetros da sede do município de Campo Largo. As 26 famílias, com 119 habitantes, que viviam há até pouco tempo completamente isoladas agora já contam com um posto de saúde, ônibus e escola reformada. ?Quero levar computadores para as crianças?, disse o prefeito do município Edson Basso.
Para a líder comunitária Elenita Aparecida Machado de Lima, essas melhorias vão evitar que outros moradores deixem o local por falta de emprego. ?Sempre vivemos da lavoura, que já não era mais suficiente para o nosso sustento, agora estamos formando uma associação para a produção de peças artesanais e esperamos melhorar a situação da comunidade?, disse.
Reconhecimento
O reconhecimento de Palmital dos Pretos é resultado do trabalho do Grupo Clóvis Moura, que reúne várias secretarias e órgãos do Estado. Para o secretário de Estado da Educação, Mauricio Requião, o certificado da Fundação Palmares reconhece o exemplo de força, de vida e de coragem da comunidade. ?Esta chama cultural foi ameaçada várias vezes, mas sobreviveu a todas as agressões e opressões?, ressaltou o secretário.
Os moradores, para comemorar o recebimento do certificado e para mostrar um pouco da cultura do grupo, fizeram uma apresentação musical com os cantos entoados na época da quaresma. Uma tradição, segundo o coordenador do Grupo Clóvis Moura, Glauco Souza Logo, que se repete em todo o país. ?Apesar das comunidades estarem distantes e isoladas, os cantos são semelhantes e remetem à origem desses locais, reforçando a importância do trabalho de reconhecimento dos quilombolas?, disse.
Também estavam presentes na solenidade o superintendente do Incra, Celso Lisboa de Lacerda, e a secretária municipal de Educação, Márcia Drehner.