Fundação denuncia falta de alimento especial para fenilcetonúricos

A Fundação Ecumênica de Proteção ao Excepcional (Fepe), que atende pacientes com fenilcetonúria, alertou hoje que estão faltando alguns alimentos especiais, o que pode comprometer o tratamento e agravar o quadro de retardo mental, um dos sintomas da doença. Trata-se de doença genética causada por um distúrbio no metabolismo do aminoácido fenilalanina que, acumulado no sangue, lesa principalmente células nervosas. É detectada no teste do pezinho.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a comercialização de produtos como farinha, pão e macarrão com baixo teor de fenilalanina fabricados por uma única empresa brasileira, por não haver registro deles no órgão. A empresa alega que não tem como cumprir a portaria que exige taxas "absolutamente iguais a zero".

Em razão disso, desde dezembro a Vittasix, de São Paulo, parou a produção. O presidente da Fepe, José Alcides Marton, disse que a entidade não tem mais farinha, que é utilizada para preparar pães e biscoitos. "Mesmo que queiramos importar uma farinha ela vai apresentar o mesmo problema, porque não há nada absolutamente igual a zero", afirmou. "Os pais estão desesperados porque não foram avisados."

No Brasil ele acredita que a incidência é de um caso para cada grupo de 20 mil nascidos vivos. No Paraná 73 pessoas são atendidas pela Fepe. Em crianças com esse problema a dose diária precisa ser bastante controlada pelo médico ou nutricionista. "A ausência ou o excesso fazem mal", disse o neurologista e diretor de pesquisas da Fepe, Ehrenfried Wittig. Segundo ele, a portaria da Anvisa demonstra "excesso de zelo", mas também não tira a responsabilidade da Vittasix. "Foram avisados de que deveriam se adaptar", acentuou.

Utilizando os produtos dessa empresa há mais de 10 anos, os dirigentes da Fepe atestam a qualidade. "O problema não é a qualidade, mas a documentação", argumentou o neurologista. A maior preocupação de Marton é que, sem o produto com baixo teor da enzima fenilalanina, os familiares de pacientes passem a procurar receitas alternativas. "A dieta é muito restrita", afirmou.

Para o sócio-proprietário da Vittasix, Fernando Guerra, não existe tecnologia que faça retirar totalmente a fenilalanina. "Já mandei dossiês à Anvisa e não sei porque essa decisão radical", disse. Mesmo assim a empresa entrou com pedido de registro. "Mas precisaria haver uma mudança na resolução estabelecendo limites", acentuou. A farinha produzida pela empresa tem 19,5 miligramas de fenilalanina por 100 gramas do produto. "Isso é tolerável", reconheceu o neurologista Wittig. Segundo Guerra, a farinha similar fabricada na Alemanha tem cerca de 17 miligramas por 100 gramas.

A assessoria de imprensa da Anvisa prometeu uma resposta mas não houve contato até o fim da tarde de hoje.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo