Fumo, veneno letal

Há cerca de dois anos os jornais publicaram, inclusive com destaque de primeira página, a foto de um homem em estado cadavérico, tendo ao lado outra, de um jovem sorridente, de cabelos longos e gozando de “plena saúde”. Ao lado de ambas as fotos – que são da mesma pessoa, só que uma nove semanas antes – a mensagem: “Não façam como eu”.

As fotos são de Bryan Curtis, cerca de 40 anos. E o que ele fez foi começar a fumar com 13 anos de idade, parando somente quando sequer tinha forças para tragar a fumaça do último cigarro. Numa só foto, os jornais retratam a realidade e o sofrimento de milhões – estima-se que morrem 4 milhões de pessoas por ano, a metade nos países em desenvolvimento – de pessoas no mundo, que em tenra idade começam a plantar no seu corpo, através do cigarro, o câncer, não só do pulmão, mas também do esôfago, laringe, boca, bexiga, etc. Ao fumar, além do câncer, estão se plantando outros tipos de doenças e outras mortes, como as do coração, aparelho respiratório e digestivo.

Em documento recentemente publicado, afirma o Banco Mundial que o número de mortos será de 10 milhões em 2030, dos quais sete milhões nos países em desenvolvimento, onde as indústrias de tabaco, através de belas propagandas, procuram atrair novos consumidores.

A relação fumo/câncer do pulmão (90% dos casos) e outras doenças graves (80% dos enfisemas pulmonares) já foi comprovada pela OMS. Sendo que no Brasil o câncer de pulmão (é o que mais mata e está relacionado com 33 mil mortes por ano) é o quarto em incidência, depois do de mama, colo de útero e estômago. Ainda, a mulher grávida que fuma tem maior chance de ter filhos com defeitos congênitos. Não só o feto pode ser vítima. O não-fumante também pode ser afetado, pois ao final de um dia em um ambiente poluído por fumaça de cigarro, ele respira o equivalente a dez cigarros.

O cigarro, além do câncer produzido pela nicotina, traz outras patologias e conseqüências, pois cada tragada coloca no organismo outras 4.700 substâncias tóxicas, entre elas o monóxido de carbono, o alcatrão e vários agrotóxicos.

A pergunta que se faz é como pode alguém, mesmo no leito de morte, como Bryan, não parar de fumar. A resposta é que a nicotina causa grande dependência, podendo ser comparada à cocaína, heroína e álcool. Essa dependência é estimulada pelas empresas fabricantes de cigarros, que adicionam amônia ao fumo para uma maior absorção da mesma, com conseqüente maior dependência e consumo. E esse mercado é forte, movimenta 10 bilhões de dólares por ano no País.

Mesmo com essa importância econômica é necessário que seja enfrentada, pois as conseqüências à vida e as despesas na área de saúde – se não superiores aos impostos arrecadados – são de grande monta. Devem-se aumentar ainda mais os impostos (no Brasil são de 74%) sobre o cigarro, pois, segundo o Banco Mundial, o encarecimento de 10% do preço do cigarro cortaria a demanda em aproximadamente 8% nos países de baixa renda e 4% nas nações mais ricas, levando 40 milhões de pessoas de todo o mundo a deixarem de fumar. Outra maneira de enfrentar é proibindo a propaganda (no Brasil já bastante limitada) e a promoção – ainda, segundo o mesmo banco, reduziria o consumo dos produtos de tabaco em cerca de 7% – e ampliar através de intenso programa de educação a informação dos malefícios para a saúde. Paralelo a isso fazer um forte controle do contrabando.

Essa campanha evitaria o crescimento vertiginoso de novos consumidores e levaria milhares de fumantes a largarem o cigarro. Nos que deixam de fumar, o risco de câncer de pulmão passa a ser igual ao das pessoas que nunca fumaram, o risco de infarto diminui rapidamente nos primeiros cinco anos e se iguala ao dos não-fumantes depois de dez anos.

Florisvaldo Fier, o dr. Rosinha, é médico pediatra e sanitarista, deputado federal (PT-PR) e presidente da Comissão do Mercosul.

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