A vida é complicada para quem comete pequenos delitos. Depois de pagarem por isso (e é justo que isto aconteça), alguns deles tentam retomar a vida em sociedade e não conseguem. O carimbo de ?preso? prejudica quem tenta a ressocialização. E, ao invés de encontrar abrigo, estas pessoas se vêem alijadas do convívio com seus iguais, sofrendo humilhações e ficando cada vez mais longe de uma existência digna.
Por isto, é de se comemorar iniciativas como a do ex-presidiário Oscar Moreira. Ele já passou pela situação-limite, que é a de enfrentar uma cadeia, saiu dela e agora criou a organização não governamental (ONG) Amigos Nova Jerusalém Organização Social, para que outros ex-detentos e seus familiares encontrem caminhos para a retomada da vida. A notícia da ONG de Moreira está na página 20 da edição de ontem de O Estado do Paraná.
Talvez só alguém que já passou por esta situação (ou teve parentes ou amigos sofrendo na cadeia) consiga ter o desassombro para criar uma entidade deste tipo. Quem não viveu não consegue assimilar na totalidade a importância de literalmente recuperar os ex-detentos, que quando saem dos presídios encontram um mundo que se distancia deles.
Irônico, ainda mais em um país que se vangloria dos seus ?espertos?. A indústria cultural impôs, em determinado momento da década de 60, o culto à bandidagem, exagerando nos protagonistas para criar assim uma metáfora agressiva do regime militar. Agora, o Brasil do ?vale tudo? coloca em suas novelas (nossa expressão mais sintomática) personagens malandros, que por conta de sua simpatia acabam ganhando finais felizes. Isto ao mesmo tempo em que figuras conhecidas da mídia e da política são pegas em situações constrangedoras.
Só que os políticos, tal como os personagens da TV, podem ficar um certo tempo afastados que retornam ?nos braços do povo? – vide Paulo Maluf. Já quem pagou pelo crime que cometeu e tenta retomar uma vida digna não encontra um abrigo para sua recuperação.
