O conflito ideológico entre os presidentes Hugo Chávez, da Venezuela, e seu vizinho colombiano Álvaro Uribe, acabou estendendo à região limítrofe dos dois países um indesejável clima de guerra de nervos alimentada pelos respectivos chefes de governo quanto à atuação das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc ), à qual o líder bolivariano preconiza o reconhecimento de força beligerante, ao invés da qualificação realista e nada honrosa de delinqüentes comuns atribuída pelo governo constitucional da Colômbia.
Conforme se percebe com facilidade, as Farc procuram levar água ao moinho do presidente Hugo Chávez, ao mesmo tempo que imaginam deixar Uribe em posição de inferioridade, pois em duas ocasiões entregaram ao governo venezuelano alguns reféns mantidos em cativeiro há vários anos pelos seguidores do macróbio Manuel Marulanda.
O clima azedou de vez entre Venezuela e Colômbia quando tropas colombianas mataram o segundo homem na cadeia de comando das Farc, Raúl Reyes.
Os guerrilheiros estavam refugiados em algum ponto da selva equatoriana e aí foram atacados por militares da Colômbia.
O fato levou o governo do Equador a fechar a embaixada em Bogotá e a retirar os representantes diplomáticos no país vizinho, seguindo a mesma medida anteriormente anunciada pelo presidente Chávez.
Este, levando ao pé da letra um ideário político absurdamente surrealista ordenou o deslocamento de tanques e aviões de combate para a faixa de fronteira com a Colômbia, sob a lógica intervencionista e irresponsável de que a incursão colombiana em território do Equador pode se transformar numa guerra aberta.
O ridículo da situação só não é igual às guerras do futebol e das bananas, travadas no século passado por países da América Central, porque ostenta em seu pano de fundo sinais muito mais alarmantes, como a ação clandestina das Farc e a operação deletéria dos cartéis do narcotráfico de cocaína para Estados Unidos e Europa.
Cabe aos países da América do Sul, em especial ao Brasil, num momento delicado como o atual, fazer chegar àqueles governantes uma advertência cordial posto que enérgica, estimulando a convivência pacífica e a busca de soluções adequadas e de interesse comum. Esta é a hora dos estadistas.