Abrir uma franquia ou um negócio sob bandeira própria é uma dúvida que normalmente tem origem numa única premissa: ser seu próprio patrão. Daí decorrem algumas distorções: alguns garantem que a franquia é um negócio infalível. Outros, que é apenas uma repetição das relações patrões-empregado. Afinal: “o franqueador é um patrão disfarçado” ou “numa franquia, trabalha-se menos e é impossível falir”.
Nem um nem outro: ambas as concepções são distorcidas. A realidade demonstra que independentemente da escolha o que importa é estar bem preparado para o desafio de operar um estabelecimento, seja ele comercial ou de prestação de serviços; bandeira própria ou franqueada.
Preparar-se e conhecer profundamente o segmento no qual se quer atuar significa antever problemas e conhecer possíveis soluções. Parece óbvio, mas, segundo um estudo realizado pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a falta de preparo é um dos principais motivos de insucesso em novos empreendimentos.
De acordo com a pesquisa do Sebrae, publicada em 2010, a taxa de mortalidade de micro e pequenas empresas, apesar de apresentar queda, ainda continua elevada. Entre as empresas paulistas, o levantamento mostrou que 27% encerram atividades no primeiro ano de operação. E as principais causas do fracasso, em ordem de importância, são:
– Comportamento empreendedor pouco desenvolvido;
– Falta de planejamento prévio;
– Gestão deficiente do negócio;
– Insuficiência de políticas de apoio;
– Flutuações na conjuntura econômica;
– Problemas pessoais dos proprietários.
Para abrir um negócio sob bandeira própria é preciso considerar alguns fatores adicionais, como o tempo de maturação, aceitação de um produto novo pelo mercado e formalização dos processos de operação da empresa. Desafios que são muito menores quando se trata de franquias.
Mas, por outro lado, no franchising há regras e padrões a serem cumpridos, além da obrigatoriedade, em muitos casos, de adquirir produtos de determinados fornecedores e pagar royalties todos os meses. Outro elemento importantíssimo é o perfil de quem pretende empreender – seja na franquia ou na bandeira própria – pois há pessoas que simplesmente não conseguem seguir padrões pré-definidos.
Ao lado do preparo e de um conhecimento profundo do segmento em que se pretende atuar, é preciso agir com muita cautela, seja qual for a opção do empreendedor.
Assim, são necessários cuidados especiais com:
Contrato de locação: deve ser escrito e preferencialmente firmado por prazo não inferior a cinco anos. Verificar o zoneamento e o Habite-se. Preste atenção para propor a conhecida ação renovatória;
Ocupante prévio do ponto comercial: se você for atuar no mesmo segmento de mercado do antigo detentor do ponto comercial, é preciso realizar uma diligência dos passivos (ou contingências) antes existentes. Isso porque a sucessão ocorre independentemente da vontade das partes e mesmo que não haja compra da empresa anterior.
Plano de negócios: é preciso realizar um estudo sobre o comportamento financeiro do empreendimento pretendido, com o intuito de preparar-se, por exemplo, para enfrentar as sazonalidades do negócio;
Alvarás e autorizações: as exigências sobre esses documentos podem variar de negócio para negócio. Portanto, antes da inauguração do estabelecimento, todas as autorizações devem estar em dia.
Franquias: analise cuidadosamente a Circular de Oferta de Franquia (COF), preferencialmente com a ajuda de um profissional, e conheça bem a Lei 8.955/94. Um procedimento recomendável é conversar com os atuais franqueados e também com alguns que eventualmente tenham se desligado da rede.
Mas tenha bem claro que, mesmo tomando todos esses cuidados, nem a franquia, nem a bandeira própria são garantia de sucesso. O preparo e a cautela podem representar um diferencial competitivo. Mas não há negócio sem risco.
Thais Mayumi Kurita é sócia do Kurita, Bechtejew e Monegaglia Advogados – KBM Advogados.