A capital gaúcha respira o clima do V Fórum Social Mundial (FSM) que deve reunir, neste ano, cem mil pessoas às margens do rio Guaíba. Os hotéis da cidade estão lotados e muitos participantes do FSM têm que recorrer a hospedagens familiares, motéis e pousadas para garantir a participação no evento. O Acampamento da Juventude, montado no coração do Fórum Social Mundial, já contabiliza dez mil jovens acampados, das mais diferentes nacionalidades e regiões brasileiras.
Os estudantes Fabio Souza e Valéria Nascimento enfrentaram a distância entre Sergipe e Porto Alegre para participar do Fórum. Valéria levou dois dias para chegar de ônibus à capital gaúcha, enquanto a viagem de Fábio durou seis dias ? uma vez que o estudante optou pela carona para chegar a Porto Alegre. "O sacrifício vale a pena. Eu já estive no Fórum de 2002 e é um grande espaço de discussão. Vou repassar tudo o que aprendi por aqui aos meus colegas lá em Sergipe". Valéria, estreante do Fórum, não escondeu a ansiedade pelo início oficial do evento. "Eu sempre achei interessante a proposta de discutir um outro mundo possível e não ficar fechada só na mesma realidade", revelou.
No lado oposto do acampamento, jovens do movimento negro e do Hip Hop dividiam espaço com turistas italianos e ingleses. A democratização do acampamento representa, na opinião de Maria Luiza Viana ? que é do comitê organizador do movimento Hip Hop ? a complexidade que é o Fórum Social Mundial. O movimento conseguiu este ano uma área reservada. É a primeira vez que os integrantes do Hip Hop conquistam o espaço, segundo Maria Luiza, depois de muita conscientização dos próprios jovens do movimento. "Em 2001, a gente ficava apenas olhando o Fórum e o acampamento como um espaço que não era para nós. Tivemos que nos debruçar um ano antes para que as pessoas na periferia soubessem que o Fórum é também para elas. Ficamos o ano de 2004 todo levando informação. Muitas vezes são tão calejados, são sofridos, que acham que o espaço não é para eles", afirmou.
Além dos jovens e integrantes de movimentos sociais, 2.500 voluntários transitam pelo Fórum Social Mundial com a missão de auxiliar todos os participantes nas mais diversas funções. O artesão Mário Olímpio Moreira, ao lado do filho Pedro Moreira, de cinco anos, montou uma barraca no Acampamento da Juventude como voluntário. Morador de Porto Alegre, o artesão decidiu participar pela primeira vez este ano para auxiliar na montagem de balcões de vendas no acampamento. "Estou aqui por amor a essa causa, por acreditar que é possível criar um mundo melhor. Não é interesse comercial. Temos que participar de toda a programação do Fórum", afirmou.