Fórum do Trigo apontou problemas de escoamento da safra

Os participantes lembraram que o trigo já foi a principal fonte de renda de muitas propriedades. Porém, atualmente, é cultivado graças à perseverança de alguns produtores. Para os representantes de diferentes elos da cadeia produtiva do trigo, os gastos não compensam. Segundo eles, no momento da venda, o produto não tem preço.

O vice-governador e secretário da Agricultura, Orlando Pessuti, ressaltou que não é a primeira vez, nem vai ser a última, que lideranças e produtores se reúnem para discutir o assunto.

?A situação do trigo já foi profundamente discutida várias vezes com técnicos do Ministério da Agricultura e com o ministro Roberto Rodrigues. O pessoal da Faep, Ocepar e Seab já debateram exaustivamente o assunto com o ministro. Quem sabe agora, num esforço conjunto com os Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, conseguimos mudar esse quadro?, disse.

Segundo Pessuti, alguns problemas do setor decorrem principalmente da situação externa. ?Mas algumas medidas internas adotadas pelo Governo Federal poderiam facilitar a vida dos produtores?, lembrou.

Apesar do clima, o Brasil deve produzir nesta safra cerca de cinco milhões de toneladas de trigo. Para o presidente da Cooperativa Castrolanda, Franz Borg, é inexplicável que mesmo com a diferença produção/consumo seja difícil vender o grão. Segundo ele, a situação é reflexo do custo inflacionado, causado pelo câmbio, que cria dificuldades desde a última safra.

?A Ocepar tem buscado junto ao Governo Federal intermediar essa situação, sugerindo medidas emergenciais, como contratos de opção de compra e venda para 24 milhões de toneladas, adotando preço de 450 reais por tonelada, PEP para reduzir o estoque, entre outras?, disse.

Borg ainda sugeriu acabar com a importação de farinha na forma de pré-mistura e adotar a equalização do ICMS entre todos os Estados. O presidente da Castrolanda criticou o sistema de cabotagem. ?É um entrave, que eleva o custo do frete, já que o serviço está nas mãos de poucos?, afirmou.

Ele também lembrou que o trigo é um produto de segurança nacional. ?O Brasil se esforça para garantir pelo menos 50% de suas necessidades e, hoje, se vê diante dessa situação difícil de ser solucionada?, criticou.

O presidente da Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná), Ágide Meneguette, disse que os produtores caíram numa armadilha. ?De um lado, o Governo incentiva a plantar. De outro, não adota medidas positivas para quem planta?, afirmou.

Ele lembrou que há muita dificuldade para vender o trigo, pois os preços estão abaixo dos estabelecidos pelo Governo, o que inviabiliza a comercialização. ?O preço está tão baixo que o produto hoje substitui o milho na ração animal?, reclamou.

Meneguette também criticou a legislação de cabotagem. ?Ela interessa a poucos armadores?, afirmou. Também disse que o Governo tem que decidir, de uma vez por todas, se o plantio de trigo é de interesse nacional ou não. ?Pois, na hora H, de comercialização, prefere comprar o produto da Argentina. Os produtores do Paraná e do Brasil não agüentam mais produzir sem retorno?, desabafou.

Durante o evento, o diretor de Abastecimento do Ministério da Agricultura, José Maria dos Anjos, falou sobre as políticas governamentais para a comercialização e o escoamento do trigo. Segundo ele, o anseio do Governo Federal é o mesmo do produtor. ?Mas existe limitação orçamentária para atender todas as reivindicações. Se os pleitos da Secretaria da Agricultura, Ocepar e Faep fossem aprovados, os gastos, só para apoiar a comercialização, seriam de R$ 1,4 milhão?, revelou.

Para o representante do Ministério, a situação do preço é conseqüência do câmbio. Na ocasião, ele apresentou uma proposta de comercialização, já adotada para outros produtos. ?É o mecanismo de opção privada para a safra futura?, destacou.

Segundo ele, para a região sul do País o Governo Federal disponibiliza R$ 571 milhões. ?Esse apoio representa de 40% a 50% da safra no Estados do sul, além dos financiamentos normais. É mais fácil operar esse instrumento que o PEP?, comentou.

Anjos afirmou que, nesta sexta-feira, devem ser repassados R$ 600 milhões ao Ministério. Para o analista técnico e econômico da Ocepar, Robson Mafioletti, com esse recurso será possível alavancar os contratos de opção de venda e outros instrumentos reivindicados.

O secretário executivo da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Ocesc) lembrou que os agricultores catarinenses são responsáveis pela produção anual de 150 mil toneladas de trigo. ?Mas estão impotentes, lamentam não ter como cumprir seus compromissos devido ao baixo preço praticado. Depois da estiagem, os produtores esperavam uma recuperação financeira através do trigo. O que não aconteceu?, disse.

Já o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (Fecoagro), Rui Polidoro, lembrou que há necessidade de comercializar o trigo o quanto antes. ?O desânimo dos produtores é grande. Será difícil reverter essa situação. Eles perderam a auto-estima?, afirmou.

Para Polidoro, é preciso alertar e sensibilizar o Governo Federal. ?Espero que, desse encontro, possa ser extraído um documento que tenha força para mudar o que está acontecendo?, disse. Ele lembrou que o cultivo do trigo é uma atividade que já gerou divisas para o País. ?Chegou a hora de cobrar a nossa parte, elaborando um documento racional, mas contendo nossas verdades?, sugeriu.

O consumo de trigo no Brasil está estagnado há cinco anos. Esta foi a crítica do presidente da Abitrigo, Roland Guth. ?A moagem não cresce, não há crescimento de consumo nem do trigo, nem dos derivados.

As causas são o não-crescimento de renda da população, a excessiva carga tributária e a entrada maquiada da farinha argentina no País, que é a pré-mistura. Sem contar a guerra fiscal, predatória para os moinhos, e que também influencia na comercialização de grãos, com desvantagens competitivas frente a outros estados?, comentou.

Segundo Guth, esses problemas precisam ser resolvidos para melhorar a liquidez do trigo nacional. Sem isso, a situação tende a se agravar ainda mais nos próximos anos. ?Temos que partir para uma política mais agressiva. Como a do Chile, que hoje é quase auto-suficiente. Aquele país barrou a entrada de trigo e taxou a farinha de outros países, dando preferência ao produto chileno?, disse.

O Fórum do Trigo reuniu cerca 140 pessoas, entre profissionais da área comercial, produtores, representantes de cooperativas e indústrias, membros dos governos Federal e Estadual. O evento foi promovido e realizado pela Secretaria da Agricultura, Ministério da Agricultura, Ocepar e Faep.

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