Apoiada por mais da metade dos 81 senadores, inclusive do PT, a CPI das ONGs será a primeira investida contra o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no novo mandato e palco de conflitos entre oposição e base aliada no Congresso. O senador Heráclito Fortes (PT-PI) prevê que até terça-feira conseguirá 44 assinaturas, 17 além do necessário. Mas ele quer aumentar ainda mais a sustentação da investigação, temeroso de que a pressão do Planalto leve os petistas Tião Viana (AC), Sibá Machado (AC), Fátima Cleide (RO) e Ana Júlia a retiraram as assinaturas.
A investigação se concentrará nas transferências voluntárias de recursos do Orçamento para ONGs nos primeiros quatro anos de Lula. O senador antecipa, porém, que não se oporá a um eventual pedido dos governistas para estender a apuração do governo de Fernando Henrique Cardoso. "Quando se lida com dinheiro público, não pode haver barreiras", alega.
Na CPI, um dos alvos da oposição será a ONG Rede 13, ligada à filha do presidente Lula, Lurian, e a seu churrasqueiro, Jorge Lorenzetti, acusado de ter articulado a compra do dossiê Vendoin. O governo avalia que existem cerca de 250 mil ONGs no País, movimentadas por 3 milhões de pessoas. De acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU), 54,5% dos convênios da União, entre 1999 e 2005, foram firmados com ONGs sem capacitação e sem estrutura para realizar o trabalho.
O senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) acredita que todas as denúncias de corrupção investigadas no governo Lula tiveram, direta ou indiretamente, o envolvimento de ONGs como intermediárias do repasse de dinheiro público. Lembra, por exemplo, que a CPI dos Sanguessugas identificou ONGs intermediando a venda de ambulâncias superfaturadas.