O esquema da máfia dos sanguessugas levou embora, no ano passado mais de R$ 110 milhões de dinheiro público superfaturando ambulâncias. A recém-descoberta máfia das obras, denunciada pela Operação Navalha, sumiu com outros R$ 170 milhões. Esses R$ 280 milhões, pequeno capítulo da interminável novela da corrupção nacional, deixou claro aos políticos do Congresso o que muita gente já sabia: que o modo de fazer o Orçamento da União é um convite – mais que isso, um estímulo – à corrupção, e nenhuma mudança adiantará se ele não for rediscutido a fundo.
?O Orçamento sobrevive hoje dentro de uma cultura que não faz mais sentido. Temos de extinguir a Comissão de Orçamento, ou então fechar o Congresso?, resume o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE). ?O que se vê nas reuniões das subcomissões é uma esculhambação a que o País assiste indignado?, completa o senador petista Paulo Paim (RS). Na dança em busca dos bilhões do Orçamento (este ano, R$ 1,53 trilhão) há entre 40 e 60 parlamentares espalhados por inúmeras subcomissões. Nas reuniões para dividir o dinheiro das receitas há um toma-lá-dá-cá do qual participam lobistas ou até donos de empresas interessadas em capturá-lo. ?Parlamentar sério tem até medo de passar por perto daquelas salas?, ironiza outro senador tucano, Arthur Virgílio (AM).
A falta de cuidados nesses procedimentos espanta até parlamentares experientes: integrantes desses grupos circulam entre Congresso e ministérios, sem constrangimento. Entre os 47 detidos pela Operação Navalha estavam dois servidores de gabinetes de deputados. Um deles, Ernani Gomes Filho, foi recrutado pelo deputado Márcio Reinaldo (PP-MG) no Ministério do Planejamento, onde sua área de atuação é exatamente política orçamentária. Outro detido, Francisco de Paula Lima Jr., é sobrinho do governador maranhense Jackson Lago (PDT) e, como assessor de um deputado, fazia intermediação entre seu Estado e as reuniões de subcomissões.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo