A volta do feriado de Finados teve ontem aeroportos lotados e atrasos de até 2 horas em vôos. Mas, com as imagens do colapso de quinta-feira ainda frescas na memória – quando vôos atrasaram até 16 horas e houve quebra-quebra em terminais -, poucos passageiros reclamaram de transtornos. A Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero) divulgou um balanço dos prejuízos provocados pela operação-padrão dos controladores de vôo, que afetou 43% das decolagens no País entre o dia 25 e sábado. Ao todo, 1.176 vôos foram cancelados. Dos 14,7 mil que decolaram, 5,1 mil (35%) tiveram atrasos significativos
Ontem, o aparente sucesso da força-tarefa montada pelo comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, com a convocação à força de controladores de vôo para trabalhar em meio à operação-padrão, deixou eufóricos militares e os Ministérios da Defesa e da Casa Civil. No sábado, no entanto, circularam insistentes rumores de que Bueno deixaria o cargo e sua situação no governo ainda é considerada delicada
A Infraero informou que houve ontem 1.740 decolagens no País, com 209 mil passageiros, considerando uma média de 120 pessoas por vôo. Segundo o presidente da empresa, brigadeiro José Carlos Pereira, só ocorreu um atraso significativo, de 1 hora e 10 minutos, num vôo entre Salvador e São Paulo. Entretanto houve atrasos superiores a 1 hora e 45 minutos em ao menos quatro vôos um com chegada no Aeroporto Salgado Filho, Porto Alegre, um com chegada no Aeroporto de Congonhas, São Paulo, e dois no Aeroporto dos Guararapes, Recife
Pereira disse que, para solucionar a crise, é preciso investir em pessoal e modernização de equipamentos e aumentar verbas do setor. Ele não soube prever até quando surtirão efeito a criação da força-tarefa e outras medidas de emergência, como a restrição à circulação de aviões pequenos. ?Até quando elas vão manter o ritmo normal nos aeroportos, se por duas, três semanas, até o Natal ou o ano-novo, não sabemos.
Atrasos à parte, Bueno está sob pressão pelo fato de ter entrado em atrito com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o ministro da Defesa, Waldir Pires. Acusado por Dilma de ter ocultado a real dimensão da crise, Bueno se indispôs com Pires porque o ministro abriu negociação com controladores, aos quais acenou com a concessão de gratificação salarial. A iniciativa foi vista como uma ameaça à hierarquia militar. Dos 2,7 mil funcionários do setor, 2.188 pertencem à Aeronáutica. Oficiais chegaram a comparar o episódio às mobilizações de sargentos e marinheiros que antecederam o golpe militar de 1964.
Na quinta-feira, pior dia da crise, Pires e o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, foram a uma sala de videoconferência na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para ouvir controladores, deixando de fora um brigadeiro enviado pela Aeronáutica. Na sexta-feira, Pires defendeu a criação de um sistema de controle de vôo civil.
Dilma convocou reunião para amanhã com Pires, Marinho e controladores. A Aeronáutica reclamou de não ter sido convidado. Também pediu que o encontro seja realizado sem a presença dos controladores.
