Das hostes situacionistas surgem ataques à política econômica e ao seu condutor, ministro da Fazenda Antônio Palocci Filho. Pedem a sua cabeça, como fez o presidente nacional do aliado PL. E a defesa do ministro surge das hostes oposicionistas. Tasso Jereissati, senador pelo PSDB, defendeu a política econômica e a permanência do ministro, como uma condição de governabilidade. De governabilidade também falou o antes todo-poderoso e hoje muito visado ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, dizendo que estão tentando desestabilizar o governo. E, em tom de ameaça, advertiu que tomem cuidado com tais tentativas.
Sob o ponto de vista ideológico e programático, o que está acontecendo é lógico, embora seja um paradoxo sob o ponto de vista político. É que o governo segue a política econômica que era esperada da oposição, se esta ganhasse as eleições. Não é exatamente política econômica, mas financeira. Uso de superávits primários crescentes para rolar a dívida externa, nada sobrando para o desenvolvimento econômico e social do País. Com Serra, fosse ele o vitorioso, a diferença dessa política em relação à que pratica Palocci seria de dosimetria. Entende-se que faria a mesma coisa, só que não do mesmo tamanho. Economizaria para pagar a dívida externa, mas menos, fazendo sobrar um pouco para o desenvolvimento da economia. Não estranha, pois, que do PT, de formação esquerdista, restritivo ao capital estrangeiro e ao seu pagamento em prejuízo de investimentos essenciais para o desenvolvimento da economia interna e a geração de empregos, além de favorável à reserva de recursos para políticas sociais, surjam as críticas à política do governo que é do próprio PT.
Essa situação paradoxal parece estar sendo digerida pela sociedade, mas os seus resultados, não. Pela segunda vez, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, através de seu presidente, dom Geraldo Majella Agnelo, faz severas advertências ao governo Lula. Para a CNBB, “a fome e a miséria sempre existiram no Brasil. Porém nunca foram tão visíveis como agora. Antigamente, a gente via pelas ruas a pobreza. Hoje, ao que enxergamos é a miséria”, disse o presidente da CNBB. Segundo o cardeal, líder maior da igreja em nosso País, os pobres não podem mais apertar os cintos. “A política econômica precisa atender, prioritariamente, os problemas sociais do Brasil, que são muito grandes”. Para ele, existe uma preocupação do governo muito grande em premiar o capital e onerar o trabalho. À realidade do povo brasileiro, chamou de “triste espetáculo”.
Recentemente, a mesma autoridade religiosa chegou a dizer que não tivemos ainda convulsões sociais, nem descartou entre elas movimentos revolucionários, porque temos um povo pacífico. Mas não descartou o surgimento de agitações provocadas pela dificílima situação do povo.
As advertências da CNBB devem ser ouvidas. Significam mais que os discursos pró e contra a política econômica que se ouvem de situacionistas e oposicionistas. Mas, o que torna o posicionamento da igreja gravíssimo é que ela, como as forças armadas e poucas outras instituições nacionais, podem mostrar-se como organismos organizados e, por isso mesmo, fortes. Se a CNBB for contra o governo, mesmo que jamais lidere movimentos subversivos, a verdade é que estaremos com os estamentos da nossa incipiente democracia balouçando.