Rio de Janeiro (AE) – O deputado federal Luiz Antônio Fleury Filho (PTB-SP), vice-presidente da Frente Parlamentar Pelo Direito da Legítima Defesa, queixou-se hoje (14) do que classificou como "maniqueísmo disseminado" pela campanha da Frente Brasil Sem Armas. Durante encontro no Rio de Janeiro sobre o referendo das armas, na Associação Comercial do Rio, Fleury reagiu à definição do sociólogo Antônio Rangel Bandeira, da ONG Viva Rio, de que os partidários do "não" representam o voto conservador e o atraso, enquanto o "sim" mostra a tendência de um Brasil moderno.
"Esse maniqueísmo dificulta. Acho que desde o início a questão está sendo distorcida", disse Fleury, que também tentou refutar as estatísticas apresentadas por Bandeira. De acordo com o sociólogo, que fez uma pesquisa detalhada sobre o assunto e publicou num livro, o Brasil tem pelo menos 17 milhões de armas, 90% nas mãos de civis. Ele citou outras estatísticas, como a de que 4 em cada 10 mulheres assassinadas à bala são vítimas dos parceiros, e um levantamento do governo do Estado do Rio de Janeiro que mostra que 61% das armas apreendidas com bandidos já tiveram registro legal. "Se arma trouxesse alguma segurança, o Brasil seria um paraíso de tranqüilidade", argumentou Bandeira. Para Fleury, os dados não têm base científica e, por essa metodologia, o número de armas não ultrapassaria 2,5 milhões.
O desembargador João de Deus Menna Barreto, convidado para falar sobre motivos de votar favoravelmente à proibição do comércio de armas, declarou-se indeciso sobre o referendo. "Até agora a questão só tem causado perplexidade. Tenho certeza de que no dia do pleito eu terei a posição de dar meu voto para um lado ou para o outro, mas no momento registro apenas a minha perplexidade", disse Barreto.
O desembargador Antônio Carlos Amorim, ex-presidente do Tribunal de Justiça do Rio convidado para falar sobre a votação do ponto de vista constitucional, também defendendo o "não" e reforçou o ataque aos argumentos do "sim". Diante disso, o sociólogo do Viva Rio argumentou que quem achar que ter uma arma é garantia de segurança não passa de fantasia de cinema. "O bandido tem a favor o fator surpresa e quem reage, morre", afirmou Bandeira.
"Considero demasiado pedir a uma pessoa que se acovarde por sua segurança, que peça clemência a um drogado ou que argumente mostrando o código penal com o malfeitor que invada sua casa. Essa linguagem da razão o facínora não conhece", respondeu o ex-ministro do Trabalho Almir Pazzianoto, que defendeu o "não" ao lado de Fleury.
Bandeira lamentou que a defesa das armas ainda tenham no Brasil um perfil machista e elitista. "Essa idéia do homem armado, de peito aberto, é pueril. Coragem é não usar armas numa sociedade armada", disse.