O presidente Lula fez sua parte ao tentar reduzir o impacto da derrota infligida ao PT. Do estrangeiro, afirmou que o deputado Severino Cavalcanti, novo presidente da Câmara, é um democrata e foi eleito de acordo com o rito democrático.
Pequeno consolo aos estrategistas do Planalto, a essa altura ainda desarvorados pelo golpe fulminante que à maioria parecia inconcebível. O fogo da discórdia espalhou-se com rapidez pelos arraiais do governo, levando expoentes do primeiro time a trocar veladas e, depois, explícitas acusações de culpa pela derrota, sempre amarga e sofrida.
A melhor recomendação, no entanto, mesmo não sendo obrigação das mais agradáveis, seria um exame proficiente da consciência coletiva dos quadros dirigentes do governo e do partido, em busca das razões passíveis de refazer no grupo o moral abalado e a garra para recomeçar a jornada, do ponto onde empacou com a acachapante eleição de Severino Cavalcanti.
Os principais articuladores do governo, ministros José Dirceu e Aldo Rebelo, e o presidente do PT, José Genoino, devem dar exemplo de serenidade e domínio da arte da política, como nunca merecedora da tosca, mas elucidativa definição de arte de engolir sapos.
Dava-se como certa a saída de Rebelo do ministério ainda esta semana, numa cobrança incisiva de círculos petistas indignados com o, digamos, pífio desempenho do coordenador político do governo quando sua competência foi posta à prova. Caso isso ainda não tenha ocorrido, Rebelo não sobreviverá à reforma ministerial obrigatória pelo destempero da Câmara.
O nome de maior prestígio nessa aposta é o do deputado João Paulo Cunha, a quem o presidente Lula deverá confiar a recuperação das pesadas avarias sofridas por sua sustentação no Congresso Nacional.
Sem um mísero cargo na mesa diretora da Câmara, ao PT não resta alternativa senão esfalfar-se para aprender o bê-á-bá, infelizmente abandonado pela metade.