Fitch: Brasil não deve ser grau de investimento em 2007

A maioria dos países latino-americanos com rating de crédito soberano BB não deverá alcançar grau de investimento em 2007, diz relatório divulgado hoje pela Fitch Ratings. O relatório analisa as situações de Peru (BB+), Panamá (BB+), El Salvador (BB+), Brasil (BB), Colômbia (BB) e Costa Rica (BB). O texto ressalva que um crescimento econômico mais forte do que o esperado e melhoras em indicadores externos e fiscais "poderão engendrar maior dinamismo nos ratings desses emissores soberanos".

O relatório diz que "é improvável que Brasil e Colômbia sejam promovidos ao grau de investimento no curto prazo, por causa de seu nível de endividamento elevado. O crescimento do PIB do Brasil, que tem sido menos dinâmico do que o dos países de rating equivalente, limita a velocidade à qual ele pode reduzir sua pesada dívida".

O texto lembra que desde 2004 a Fitch elevou os ratings de cinco países então classificados como BB+ para grau de investimento (Bulgária, Casaquistão, Romênia, Rússia e Índia) e observa que há apenas três países latino-americanos que já têm ratings com grau de investimento (Aruba, Chile e México), "o que é um número bastante baixo em comparação com Ásia, Europa emergente e Oriente Médio. A América Latina poupa e investe menos do que a maioria das demais regiões do mundo e, por isso, cresce a um ritmo menor. Ao mesmo tempo, a região sofre de uma taxa mais alta de endividamento, como resultado de políticas fiscais populistas adotadas no passado"

Sobre o Brasil, a Fitch notou melhoras ocorridas nos últimos dois anos nas áreas externa e fiscal. "Além disso, o quadro robusto de políticas do governo brasileiro é, talvez, uma característica que o país compartilha com nações com grau de investimento. Isso resultou em inflação mais baixa – mais baixa mesmo que a da Rússia -, em uma taxa de câmbio menos volátil e em um crescimento do superávit primário do governo. No ano passado, o governo superou sua meta de superávit primário, apesar da desaceleração econômica. De fato, reações apropriadas das políticas fiscal e monetária às várias crises ocorridas nos últimos anos e à transição para um governo que se inclina para a esquerda também melhoraram a credibilidade das políticas do Brasil."

O relatório ressalva que "a ascensão do Brasil ao grau de investimento está sendo atrapalhada pelo desempenho sem brilho em termos de crescimento e pelo alto nível de endividamento do governo".

O texto diz ainda que "o desempenho fiscal do Brasil precisa melhorar consideravelmente nos próximos anos para alinhá-lo aos dos países com grau de investimento" e que, "como no caso da Índia, a maior parte da dívida do governo do Brasil é doméstica e em moeda local, mas a estrutura de sua dívida interna é bem menos favorável do que a da Índia".

Para a Fitch, "o desempenho do Brasil em termos de crescimento é consideravelmente mais fraco do que o da maioria dos países com grau de investimento e restringe a capacidade do país de superar seu problema de dívida. A taxa de investimento permanece baixa, em 21% do PIB, o que resulta em parte das taxas de juro reais elevadas, alta carga tributária e fluxo limitado de investimento estrangeiro direto (apenas 1,6% do PIB em base anual). Da mesma maneira, o investimento parece ser menos eficaz em comparação com alguns outros países latinos, que têm mostrado crescimento maior com níveis similares de investimento".

A agência acredita que "um crescimento maior poderia ser obtido no Brasil se mais reformas estruturais fossem aprovadas, incluindo a redução da carga tributária, reforma trabalhista, o relaxamento de restrições do lado da oferta, incluindo os problemas de infra-estrutura, e melhoras no cenário regulatório e legal. A independência do Banco Central poderia consagrar ainda mais a credibilidade da política monetária, reduzindo, com isso, as taxas de juro reais".

A Fitch ressalva que "o cenário político volátil do país torna o progresso das reformas econômicas bastante difícil. O presidente Lula obteve um segundo mandato, o que é um bom augúrio para a continuidade das políticas. Contudo, com o Congresso ainda dividido e a coalizão liderada por Lula sem maioria nas duas Casas do Congresso, é difícil visualizar que as reformas estruturais requeridas para liberar o potencial de crescimento do Brasil serão aprovadas logo. Para complicar as coisas ainda mais, a Constituição do Brasil regula detalhes da política pública, tornando necessárias emendas constitucionais para reformas econômicas corriqueiras".

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