Findo o prazo para a definição das coligações e candidatos respectivos às prefeituras e câmaras municipais nas eleições de outubro, rápido balanço indica que não vai bem das pernas a aliança PT-PMDB que tanto gregos como troianos consideravam, qualquer que fosse o ângulo da análise, coalizão tão firme quanto o rochedo de Gibraltar. Na prática, verificou-se o contrário.

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A ligação que se anunciara indestrutível entre o PT e o maior partido representado no Congresso Nacional (PMDB), por conseguinte, detentor da bancada parlamentar mais numerosa no apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para efeito das eleições municipais nos maiores colégios eleitorais dos estados, as capitais, foi impotente para resistir às divergências localizadas. Em apenas 10 capitais o PT estará coligado ao PMDB no esforço pela eleição do prefeito municipal, significando para nove entre dez observadores da cena política um visível retrocesso na orquestrada, porém débil costura que colocava lado a lado ambos os partidos. Alguns chegam a ver nessa flagrante desavença um sinal de que a própria aliança somente terá condições de sobrevida em 2010, à custa dos indefectíveis interesses fisiológicos que constituem o substrato do oportunismo visceral dos homens públicos brasileiros.

O desejo dos defensores da volta do PT à ortodoxia, por outro lado, não foi suficiente para evitar o perigoso contágio com as agremiações políticas envolvidas diretamente na escandalosa comandita do mensalão, tendo em vista que em sete capitais as coligações têm a participação do PTB, PR e PP. Não se sabe, ainda, quais serão os argumentos incorporados ao discurso da ética e da transparência na política, outrora o principal trunfo petista, para convencer o eleitorado dos grandes centros urbanos de que, afinal, o dinheiro levado a Brasília em malas por funcionários das agências de Marcos Valério Fernandes de Souza ou na cueca do assessor do deputado estadual cearense, irmão de José Genoino, na época presidente da executiva nacional do PT, nada mais representavam que inocentes ?recursos não contabilizados?. O que todos os partidos estavam cansados de fazer, conforme a iluminada concepção de Lula na discutida entrevista de Paris.

O vestibular para 2010 foi complicado também para os dois pré-candidatos mais fortes do PSDB, os governadores José Serra e Aécio Neves. Serra fez das tripas coração para evitar que seu partido lançasse candidato próprio, de olho na eleição presidencial, dando preferência à reeleição de seu vice-prefeito, o democrata Gilberto Kassab. O partido se dividiu quando o ex-governador Geraldo Alckmin reivindicou e ganhou o direito de também disputar a Prefeitura de São Paulo. A briga está encarniçada, mas para efeito de propaganda os tucanos de rica plumagem alinhados a Alckmin apregoam que todos estarão no mesmo ninho no segundo turno. Os democratas esperam que a recíproca seja verdadeira.

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Em Belo Horizonte a chaleira do entendimento chegou ao máximo da fervura, mas não houve santo capaz de ajudar a benzer a insólita coligação PT-PSDB, apesar do ingente esforço feito pelo governador Aécio Neves e da simpatia pessoal do presidente Lula, cuja intenção foi frustrada pela decisão da executiva nacional do PT ao vetar a aliança com os tucanos. Mesmo assim a chapa está formada pelo ex-secretário Marcio Lacerda (PSB) e um deputado petista na vice, seguindo à risca a fórmula proposta pelo governador e o prefeito Fernando Pimentel, também petista.

Em Curitiba, o PMDB optou pelo isolamento e lançou como candidato à Prefeitura Municipal o ex-reitor da UFPR, o oftalmologista Carlos Moreira Júnior. Foi para o arquivo a aliança que vigorou na eleição anterior, quando o partido do governador pulverizou as escassas fichas na candidatura de Angelo Vanhoni. O PT deverá se esforçar agora com Gleisi Hoffmann, seguindo o plano de acumular forças para a eleição estadual de 2010 tocado pelo fascínio de que, afinal, chegará sua vez de ocupar a principal cadeira do Palácio das Araucárias. 

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