Ao registrar uma inflação média de 0 83% na cidade de São Paulo em abril, o IPC
da Fipe ficou no seu maior patamar desde agosto de 2004, quando o reajuste médio
dos preços foi de 0,99%. Esse é mais um ingrediente no cenário inflacionário que
continua sem dar tréguas e ameaça contaminar as expectativas de longo
prazo.
Se há algo de bom nesta inflação, conforme tem defendido o
coordenador do IPC-Fipe, Paulo Picchetti, é que ela decorre de reajustes,
principalmente, de alimentos, que pelo grau elevado de volatilidade acabam, por
outro lado devolvendo mais rapidamente quase que tudo o que aumentou.
O
grupo Alimentação foi citado por todos os 21 analistas consultados pela Agência
Estado ontem como sendo o principal fator de alta da inflação de abril. Voltou a
registrar a mesma taxa de variação da terceira quadrissemana (1,55%), mas fechou
1 26 ponto porcentual acima da variação de 0,29% registrada em março.
Os
alimentos industrializados fecharam o mês passado mostrando um aumento médio de
1,52% ante 0,23% em março.
Para Picchetti, este é um segmento que se
encontra em franco processo de recuperação de perdas, já que nos últimos 12
meses seus preços foram reajustados abaixo da inflação. No caso dos
semi-elaborados, o aumento de 1,55% reflete em grande parte a quebra de safra em
decorrência da longa estiagem no Sul do País. Além disso, este segmento tem sido
vítima dos aumentos do leite e seus derivados, que têm respondido ao forte
volume de exportações.
Os alimentos in natura, principalmente, com alta
média de 2,70% em abril ante uma taxa de reajuste de 1,02% em março, têm sido
motivo de muitos desentendimentos entre os especialistas em inflação. São
produtos sujeitos a intempéries, mas que devolvem rapidamente suas altas ou
quedas expressivas. Mas este ano, e isso foi objeto de estudo do coordenador da
Fipe está demorando muito para começar a cair.
O grupo Transportes, com
sua variação caindo de 4,17% em março para 1,32% em abril, desempenhou o papel
esperado pelo mercado. Mas na contramão desta desaceleração, o grupo Saúde que
começou o mês com uma alta de 0,78% fechou abril com alta de 1 79%. Este é um
grupo formado por produtos cujos preços estão na categoria dos monitorados e são
menos sujeitos a devolver altas conforme ocorre com os alimentos. Ou seja, vai
carregar inércia para a inflação futura. A outra alta significativa do IPC-Fipe
veio do grupo Vestuário – 0,83% ante uma queda de 0,22% em março -, mas se
enquadra nos efeitos sazonais que à frente acaba devolvendo alta por intermédio
das liquidações.