Os repasses da variação do dólar para os preços ao consumidor, principalmente sobre os alimentos, levaram o coordenador da Pesquisa de Preços da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), Heron do Carmo, a elevar a previsão de inflação para este ano de 4,5% para 5,5%. A última revisão da Fipe para 2002 foi feita na metade do ano, de 4% para 4,5%, quando ocorreu a onda de reajustes das tarifas públicas.
A Fipe é mais uma instituição a revisar suas projeções de inflação. Na segunda-feira, o Banco Central havia elevado de 5,5% para 6,7% a projeção para este ano e de 2,6% para 4,5% para o ano que vem, em seu relatório de inflação do terceiro trimestre. ?Essa revisão se deve aos preços dos alimentos e ao impacto do câmbio sobre os preços de vários produtos que compõem o índice?, disse Carmo, que coordena a apuração do Índice de Preços ao Consumidor (IPC).
A questão, segundo ele, é que não há sinalização no curto prazo de que essas pressões possam ser revertidas. Hoje, a Fipe divulgou que a taxa de inflação apurada na cidade de São Paulo para o mês de setembro subiu para 0,76%. O índice ficou acima da expectativa do coordenador, que projetava 0,60%. Heron disse que os repasses da variação do câmbio e a alta dos alimentos responderam em setembro por 0,5 ponto porcentual da taxa apurada no período.
?O próprio Banco Central elevou a sua projeção para a câmbio de R$ 2,70 para R$ 3,00. Por isso, eu estou elevando a minha previsão de inflação de 4,5% para 5,5%. Além disso, é provável que depois das eleições o governo autorize reajuste dos preços de gasolina e gás de cozinha.? Heron explicou que a sua expectativa para o mês passado era de que o IPC-Fipe captasse uma taxa inferior à verificada. ?Comecei o mês com uma previsão de 0,30%?, disse ele.
Óleo de soja
Na segunda quadrissemana, o economista considerou também a trajetória que o índice vinha apresentando desde o fechamento de agosto. Naquele mês, o IPC-Fipe subiu 1 01%. Na primeira quadrissemana de setembro, ele recuou para 0 99%; para 0,89% no período seguinte e para 0,73% na terceira quadrissemana do mês passado. No fechamento do mês, ainda pressionado pelos alimentos, cuja elaboração depende de matérias-primas cotadas em dólar, o grupo alimentício fechou em alta de 1,42%.
Os alimentos in natura, que vinham apresentando taxas negativas desde o começo de agosto, fecharam setembro com uma alta de 0,89%. O subgrupo de alimentos semi-elaborados terminou em alta de 2,08%. Dentre os produtos derivados em matérias-primas cotadas em dólar, as pressões vieram do óleo de soja (10,74%), do pão francês (1,80%) e do macarrão (5,91%). O óleo de soja e o pão francês estão na lista dos itens que mais subiram no ano, 31% e 21,3%, respectivamente.