Com a conclusão de eleições em dez países latino-americanos nos últimos 12 meses, inclusive no Brasil, os xerifes das finanças européias querem saber que rumo tomará a região e esperam que a responsabilidade fiscal e o controle da inflação estejam entre as prioridades na América Latina. Durante um encontro que ocorre amanhã (4) entre os bancos centrais da Europa e da América Latina, em Madri, as autoridades européias devem insistir na necessidade da disciplina fiscal e reformas nas economias latino-americanas e esperam receber pistas do que será a polí.tica macroeconômica do governo de Luiz Inácio Lula da Silva em seu segundo mandato.
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, será o principal convidado de uma das sessões que tratará das "transformações no ambiente financeiro na América Latina e desequilíbrios globais". Meirelles chegou neste domingo (3) a Madri e participou de um jantar oferecido pelos organizadores do evento, mas não quis dar declarações à imprensa. Passou parte da tarde preparando sua intervenção, enquanto autoridades de outros países não negavam que gostariam de receber garantias de que reformas estruturais ocorreriam nos próximos anos no Brasil.
No encontro de amanhã a portas fechadas, temas como o impacto do acúmulo de reservas e inflação também serão tratados, assim como a relação entre as economias européias e latino-americanas. Representantes do BC argentino, chileno, uruguaio e mexicano também apresentarão a situação em seus países e como avaliam o futuro da região. Do lado europeu, o encontro conta com os presidentes dos BCs de Portugal, Finlândia e França, além dos espanhóis. Outro participante será o presidente do Banco Central Europeu, Jean Claude Trichet.
Os temas do encontro não foram selecionados ao acaso. Funcionários de alto escalão dos BCs presentes ao evento revelaram à Agência Estado que a questão que está nas mentes dos investidores europeus é o rumo que tomarão as políticas macroeconômicas da região, principalmente diante da vitória de alguns candidatos com plataformas consideradas como populistas. Nada menos do que um terço da América Latina passou por eleições presidenciais, entre eles México, Brasil, Chile, Costa Rica, Equador, Nicarágua e, no último fim de semana, a Venezuela.
Algumas campanhas eleitorais se basearam na necessidade de crescimento das economias ou luta contra a desigualdade. Para analistas na Europa, isso pode soar como uma disposição dos novos governos de que estariam preparados para afrouxar políticas macroeconômicas. Para o BCE, a vigilância em relação à inflação precisa ser mantida, já que os riscos ainda existem.
Mas na avaliação de economistas do Fórum Econômico Mundial, o fim do período de tantas eleições pode na realidade ser positivo pelo menos para os investidores estrangeiros. "Com um cenário político resolvido, a expectativa é de que os investimentos aumentem na América Latina. Claro, se nenhuma surpresa for anunciada", afirmou.
Projeções da ONU apontam que a região latino-americana fechará 2006 com mais um ano de crescimento de 4,5%. Para 2007, a taxa deve ser menor diante da leve desaceleração na economia mundial. Se em comparação aos anos 80 ou 90 a taxa de crescimento é tida como alta, analistas em Madri apontam que desempenho poderia ser ainda melhor. Outras regiões como a Ásia e o Leste Europeu tiveram um crescimento bem maior.
Parte da culpa seria das duas principais economias latino-americanas, o México e o Brasil, que cresceram pouco e teriam puxado o desempenho médio da região para baixo.