Financiados pelo Banco da Terra não conseguem pagar dívidas, diz Campesina

Brasília – Uma pesquisa da Via Campesina aponta que grande parte dos agricultores que compraram terra com financiamento do governo federal de 1997 a 2005 não conseguiu pagar o empréstimo e, por isso, teve de abandonar o terreno. O estudo, divulgado em agosto, foi feito com 60 mil famílias em 13 estados brasileiros. O levantamento analisou os programas Cédula da Terra, Banco da Terra, Crédito Fundiário e Nossa Primeira Terra.

Na avaliação da pesquisadora Maria Luísa Mendonça, uma das responsáveis pela publicação, os programas financiam compra e venda de terra em vez de apoiar a agricultura familiar. Segundo ela, os juros dos empréstimos variam de 3% a 6% ao ano, valores considerados altos e semelhantes às taxas praticadas pelo mercado. ?Os trabalhadores ficam endividados e isso acaba enfraquecendo a política de reforma agrária, que é uma reivindicação histórica?, diz Mendonça.

O Ministério do Desenvolvimento Agrário reconhece que o Banco da Terra oferecia taxas elevadas, entre 6% e 10% ao ano. Por isso, o programa foi extinto e os clientes, transferidos para o Crédito Fundiário, que tem juros de 3% a 6,5% ao ano.

A pesquisa mostra, ainda, que 46% das famílias não conseguem produzir o suficiente para se sustentar. ?Há um índice de pobreza muito alto. Quase 20% das famílias dizem que, desde que entraram no programa, em algum momento passaram fome?, conta Mendonça.

Ela também explica que a maioria das terras vendidas aos agricultores tem preço acima do que deveria ser cobrado. ?Os latifundiários vendem as piores terras. Com isso, os agricultores ficam sem condições de produzir?.

A pesquisadora acredita que a principal falha dos programas de financiamento é delegar a gestão para os estados, onde interesses internos podem influenciar as decisões e há ?currais eleitorais e situações que geram corrupção?.

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