Diante da atual situação da Argentina, o Mercosul ainda é viável? Na opinião de um grupo de elite do empresariado brasileiro, reunido em almoço promovido pelo Ceal – Conselho de Empresários da América Latina, há poucos dias, não. O bloco econômico do qual o Brasil é o maior componente não só se tornou inviável, como na prática já acabou. O encontro, que aconteceu em São Paulo, teve a presença do embaixador Clodoaldo Hugueney, negociador-chefe do Brasil para assuntos comerciais, Roberto Giannetti da Fonseca, secretário executivo (demissionário) da Câmara de Comércio Exterior, e Marcos Azambuja, embaixador brasileiro na França. Entre os empresários estavam Olavo Setúbal (Itaú), que foi o crítico mais severo da atual situação do bloco, e ainda representantes dos setores telefônico, petroquímico, siderúrgico, de mineração e renomados consultores.
Na opinião de Setúbal, o processo de ruptura, tanto política quanto econômica, na Argentina, é tão grave que torna inviável a manutenção do Mercosul. Para o conhecido banqueiro, que está à testa do segundo maior banco brasileiro, com ramificações no país vizinho, o bloco já acabou.
Tal posição não é partilhada pelas autoridades que estiveram presentes ao almoço nem pelo governo brasileiro. Aí, falam mais alto razões de ordem política que uma visão da realidade atual. A realidade atual, na opinião do próprio presidente Duhalde, da Argentina, é que aquele país encontra-se à beira do caos absoluto e existem pela frente duas vertentes de soluções concomitantes hipotéticas: o socorro do FMI e de outros organismos internacionais de crédito e de países ricos, principalmente dos Estados Unidos, e a realização de eleições diretas que legitimem o governo argentino, de forma a que possa gerir a crise respaldado na vontade de seu povo.
O socorro do FMI, que espera o governo argentino que aconteça logo, não tem data para ser concedido nem valor fixado. E existem fundadas dúvidas de que, mesmo sendo concedido um empréstimo imediato, possa ele colocar a Argentina novamente nos trilhos para voltar a crescer. São muito diferentes os valores desejados e os que o fundo parece disposto a, cumpridas muitas e duras condições, conceder. Fala-se num pedido da ordem de US$ 22 bilhões e a disposição do FMI de conceder, no máximo, US$ 9 bilhões.
Brasil e Argentina são o tronco do Mercosul. As participações de Uruguai e Paraguai, pelo porte de suas economias, são marginais, embora politicamente importantes. O Chile, que aparece no bloco como convidado, na verdade está mais ligado ao bloco da América do Norte, que reúne Estados Unidos, Canadá e México. Na prática, sem a Argentina participando ativamente, o que exige a sua difícil recuperação econômica, de importante só resta o Brasil, que, na crise do país vizinho, contabiliza apenas prejuízos. E credita-se um ingente esforço internacional fazendo a difícil defesa de seu parceiro falido.
Deve o governo brasileiro continuar defendendo a Argentina e colaborando para sua recuperação. Mesmo que estejamos convencidos de que o Mercosul acabou, a Argentina nos interessa por suas dimensões territoriais, população, vizinhança e tradição de negócios com o Brasil. A política brasileira em relação à Argentina visa salvaguardar interesses que são permanentes, apostando numa recuperação, mesmo que seja a longo prazo.