Os últimos dias do ano são dedicados a celebrações luminosas: Natal e réveillon. Comecemos por este último.
A passagem do ano é uma grandiosa festa luminosa que marca a despedida do ano velho e formula esperanças de um ano novo melhor. Na verdade, é um artifício que divide o tempo com base no movimento astronômico e nas convenções humanas que fixam a duração do ano e as diferentes datas históricas. Ao longo das civilizações fizeram-se muitos calendários: o Egito antigo, a Grécia, a Roma imperial e o cristianismo organizaram o tempo segundo suas conveniências e cultura.
A passagem do ano que tem pouco a ver com estes artifícios reveste-se de um enorme simbolismo: a paz, a confraternização e a justiça para todos os povos. É por isso que as pessoas de todo o mundo trocam votos de saúde, paz e prosperidade. O mesmo fazem entre si os chefes de estado e de governo.
Mais profundamente, este clima de confraternização e de justiça universais sugere, concretamente, a organização de políticas mundiais para a erradicação da pobreza; uma política de proteção à natureza pela harmonização da tecnologia com a preservação do meio ambiente; uma política mundial de educação básica; finalmente, uma política que coloque a pessoa e a comunidade humana no centro da economia e da tecnociência. Esta última política será a maior revolução do século XXI, a subordinação do consumismo aos valores éticos mais altos.
Mas a humanidade, por falta de entendimento, se ocupa minimamente destes assuntos vitais. Por isso, nosso mundo vive em conflitos armados, econômicos e tecnológicos e pratica a dominação do mais forte sobre o mais fraco.
Entretanto, a sociedade humana seria muito diferente se, durante todos os dias, se inspirasse na justiça e na paz do primeiro dia do ano o qual dá sentido ao calendário e ao progresso da História. Esta reflexão se impõe a nós brasileiros que, neste ano inaugural de um novo governo, experimentamos uma grande esperança que é a de criar um projeto de nação cada vez mais justa que comece pela inclusão social da maioria excluída: os milhões de desempregados, de favelados, índios e negros. Até que não fizermos isto, através de políticas construtivas, seremos um país que gera injustiça, violência e, conseqüentemente, lutas fratricidas, exatamente ao contrário do lema de um mundo justo, solidário e pacífico.
Mas, neste fim de ano, a maior festa luminosa é o Natal. O grande símbolo natalino não é a árvore erguida nas cidades nem papai Noel, mas, sim, é a profusão de luzes nas residências, nas ruas de todo o mundo ocidental.
Entretanto, a celebração da luz não é de origem cristã e, sim, pagã. Nesta data de 20 a 25 de dezembro o paganismo celebrava o solstício de inverno quando o “Deus Sol” começava a reaquecer a terra alcançando seu ponto mais alto em junho com o início do verão no hemisfério norte. O cristianismo, inspirado nesta tradição, introduziu a festa do nascimento de Jesus que se apresentou como “a Luz do Mundo”. Este é o sentido da profusão de luzes nas casas e nas cidades.
Mas a celebração do nascimento de Jesus através do símbolo da luz é um apelo à justiça, à solidariedade e à paz na vida social. Porém este símbolo não é só dos cristãos mas, de todas as civilizações desde os gregos até nossos dias. O canto dos anjos em Belém corresponde ao plano social das gerações anteriores e posteriores a Cristo.
Olinto A . Pegoraro é professor da UERJ e trabalha com comunidades do Morro do Borel (RJ).