A verticalização vai cair. A proposta de emenda constitucional – PEC que acaba com ela já foi aprovada no Senado e, agora, em primeira votação, na Câmara dos Deputados, por 343 votos contra 143. Sua queda é um retrocesso, porque voltaremos ao sistema eleitoral dos conluios e negociatas. Sua implantação havia significado avanço no aperfeiçoamento do sistema eleitoral e na consolidação do regime democrático.
A verticalização que vai desaparecer obrigava os partidos políticos a terem, quando assim deliberarem, coligações com os mesmos partidos nas eleições em todos os níveis de governo. Ficava proibida, por exemplo, dois ou mais partidos se associarem em torno de uma candidatura para presidente da República e, num ou mais estados, disputarem a eleição como adversários, formando coligações diversas.
O que fundamenta o sistema da verticalização, ou seja, acordos iguais de cima a baixo, é o entendimento de que os partidos políticos são organizações que têm ideologias e programas. Se uma agremiação política é de esquerda, procurará associar-se para disputar eleições com agremiações da mesma linha. Se tem um programa político-administrativo, procurará entendimentos com partidos que pensem da mesma maneira, de forma semelhante. Uma agremiação conservadora, de centro, não procuraria um partido de esquerda, cujas idéias e programas contrariam o que pensa e o que prega ao povo.
Neste sistema, que vigiu até agora e será derrubado já na próxima semana, os partidos não passam de grupos de políticos oportunistas cujo interesse exclusivo é o poder. Não importa o que nele fazer ou como fazer, pois as idéias e programas podem ser uns no plano federal e outros nos estados. Ou nenhum. O compadrismo, os acordos financeiros de financiamento de campanha e até coisas vergonhosas como o mensalão e caixa 2 é que mandam.
O oportunismo dá lugar à pregação de idéias e programas e o eleitor é tangido a votar em chefetes que não estão distantes dos truculentos e atrasados coronéis da política que por tanto tempo mandaram neste País. E, em algumas regiões, ainda mandam.
O fim da verticalização manda as idéias e os programas de governo às favas. O que vale são os conluios entre pessoas, diretórios partidários e ajustes de interesses de seus caciques. A verticalização, estabelecida em 2002 e de tão curta duração, com o tempo iria purificar a política brasileira, evitando essas confusões de alhos com bugalhos. Uma coligação para eleger o presidente, outra para eleger o governador do Paraná e outra diferente para eleger o do Ceará. E daí por diante.
Como esperar que os cidadãos participem dessa política, ingressando nos partidos políticos e dando sua contribuição ao desenvolvimento da democracia brasileira? Ao entrar numa agremiação o eleitor que deseja ser ativo na política simplesmente não sabe o que ela defende e o que ela quer para o seu município, estado e País. Defenderá o que acordar nos conluios com outras agremiações políticas díspares. Aí, quase sempre acordados serão os interesses deles. Nunca os interesses do povo.
Não é por nada que Lula defendeu o fim da verticalização e o seu PT não concordou e votou contra. Só foram contra esse retrocesso político o PT (sem Lula) e o PSDB. Os demais aceitam tudo para tomar o poder, menos compromissos sérios com o povo.