Fim da lua-de-mel

O noticiário dá conta que Lula está impaciente. Em longa reunião com os homens mais próximos de sua equipe, chegou a dar murros na mesa, descontente porque o governo não anda. Não anda nem na velocidade que ele próprio deseja nem naquela que o povo esperava. E esperava escudado em esperanças plantadas em generosas promessas, feitas durante os mais de 20 anos de vida do PT, durante a campanha eleitoral e alimentadas ao longo de todo o período inicial do governo. O projeto do presidente, sobre o qual convenceu o núcleo mais próximo do poder, era arrumar primeiro a casa, acertar as contas externas, recobrando a confiança do mercado melhorando o perfil da dívida brasileira. Depois é que começaria a governar, no sentido de realizar projetos e obras, já então com possibilidades de produzir um crescimento econômico e social sustentáveis. Gerar independência antes, para progredir depois.

Para alcançar tal objetivo, Lula propositadamente descurou da missão de administrar. Entregou essa missão a homens da sua equipe e ao PT. Enquanto isso, fazia política externa, sem dúvida necessária e realizada com surpreendente competência, se bem que com perigoso atrevimento. Enfrentou os poderosos do mundo, falando de igual para igual, muitas vezes contrariando-os e firmando-se como um líder do terceiro mundo. Parecia tudo adequado. Uma equipe obediente, que colocou a ideologia de lado para tornar viável o projeto de independência do País dos capitais estrangeiros e um presidente que, mercê de sua história, inteligência e coragem, sentava-se à mesa com os poderosos, apresentando os pleitos do nosso País.

Nesse afã, passaram-se um ano e quase dois meses e a equipe, encarregada de administrar o País enquanto Lula posava como chefe de Estado, mostrou-se incompetente. Incompetente, não porque formada por homens de inteligência e conhecimentos menores, mas em razão de que os problemas do País são muito maiores do que sonhava a vã filosofia petista. Cobrado de todos os lados, Lula parece haver perdido as estribeiras na reunião da semana passada.

Depois que, dentro de seus próprios quadros governamentais e dentro do PT, surgiram movimentos insurrecionais como o manifesto do partido, firmado por seu presidente, o até então fidelíssimo José Genoino, pedindo mudanças na política econômica, Lula sentiu faltar-lhe o chão sob os pés. Revoltou-se contra a falta de compreensão, para não dizer, de apoio da cúpula petista. Inteirou-se das dissensões dentro do próprio governo, notadamente a respeito de política econômica, e viu-se na contingência de intervir, chamando às falas sua equipe próxima.

O que reclamam os segmentos da cúpula do poder e do PT, hoje, é que vinham tolerando até aqui: a produção de crescentes superávits para ir rolando e, se possível, pagando as dívidas do País, postergando projetos de desenvolvimento econômico e, inclusive, sociais. Por isso, Lula reclamou também da área de comunicação do governo, pois esperava que ela fosse capaz de, através de propaganda e anúncios de feitos futuros, acalmar as angústias e desesperanças. Hoje, tudo indica que Lula terá de ser mais presente no governo, pois os que receberam sua delegação para governar estão, pouco a pouco, refugando o mandato.

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