Por quê? Essa é a primeira pergunta que os pais se fazem quando descobrem que seu filho é portador de uma deficiência física ou mental. É o início do processo de aceitação de uma realidade marcada por dois preconceitos fundamentais. O primeiro a ser vencido é o próprio, livrando-se do sentimento de culpa por ter parido um filho deficiente; o segundo é o alheio, que faz com os pais sintam-se diminuídos por essa mesma razão.
Todos desejam filhos perfeitos, física e mentalmente, e não pretendo fazer nenhuma apologia da defiência. Contudo, não devemos esquecer que nas relações entre pais e filhos o fator preponderante é o da emoção. Assim, por essa ótica, sejam os filhos normais ou deficientes, sempre haverá lugar para alegrias e tristezas, vitórias e derrotas, compensações e frustrações.
Evidentemente que para os pais de filhos especiais, a princípio, serão maiores as privações, as preocupações e as frustrações. Mas apenas a princípio, porque esses pais terão a oportunidade de vivenciar um amor genuíno e altruísta, um amor que não gera expectativas nem cobranças. Eles terão suas compensações maximizadas e sua existência ganhará um sentido muito menos fútil do que o habitual.
Deficientes aprendem muito cedo o valor das pequenas conquistas, por isso conseguem manter um sentimento de perplexidade e emoção diante dos fatos mais banais da vida. Filhos especiais tendem a ser mais amorosos e afetivos. Eles têm o abraço mais fácil, o beijo menos interessado. Já os filhos ?perfeitos?…
Assim, da próxima vez que virmos uma mãe com seu filho deficiente, não nos deixemos cair na cilada do julgamento fácil e equivocado da piedade. Porque merecedores de piedade, na verdade, somos todos nós, tão repletos de normalidade, mas tão vazios de felicidade.
Djalma Filho é advogado
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