Rio (AE) – Junho de 1959, o Botafogo excursiona pelo norte da Suécia e, após uma de suas tradicionais ‘escapulidas’, o craque Garrincha saberia no ano seguinte que nascia aquele que hoje é o seu único filho homem vivo: Ulf Lindberg. Hoje pela manhã, aos 46 anos, o sueco desembarcou no Aeroporto Internacional Tom Jobim para conhecer a família brasileira e foi recepcionado por Rosângela e Márcia ? duas de suas dez irmãs.
Por ser fruto de um relacionamento furtivo, Lindberg foi rejeitado pela mãe biológica que o entregou para adoção. Já aos oito anos de idade, os pais adotivos revelaram ao sueco que ele era filho de um dos maiores craques do Brasil. E, mesmo sem conhecer até hoje a mulher que o gerou, Lindberg cresceu querendo saber do pai verdadeiro e de seus parentes brasileiros.
"Desde os 8 anos, sabia que era filho dele, mas ainda não estava preparado psicologicamente para vir ao Brasil. Nunca tive medo de conhecê-los, era uma questão emocional", disse Lindberg. "Mesmo longe, desde que comecei a ser procurado por jornalistas do meu país para entrevistas e até de outros lugares tive a noção da importância do meu pai."
Para vir ao Rio, Lindberg aproveitou um pacote turístico especial, voltado para o futebol, com visitas ao estádio do Maracanã e aos clubes do Botafogo e Flamengo, proporcionados por uma agência sueca. A empresa tem por guia o escritor Fredrik Fkelund, responsável por documentar a visita, que em 2002 publicou o livro "Samba Fotball" e iniciou a amizade com o filho de Garrincha. "Na ocasião, o Ulf me disse que queria muito conhecer seus parentes brasileiros", contou.
E Lindberg começou a realizar o desejo hoje ao receber o carinho das irmãs em sua chegada. Nem mesmo o fato de nunca ter conversado com Rosângela e Márcia foi empecilho para a emoção. No primeiro encontro, sem cerimônias, trocas de carinhos, abraços e beijos. A conversa ocorreu com a ajuda do "intérprete" Fkelund.
"Ele tem os olhos, o nariz e a boca do nosso pai", disse Márcia. No sábado, Lindberg irá a Pau Grande, cidade natal de Garrincha, para conhecer as outras oito irmãs e provar pratos tradicionais brasileiros: feijoada e churrasco. No total, o craque brasileiro, que morreu em 1983, teve 15 filhos ? uma adotiva ? com seis mulheres. Destes, dois homens e duas mulheres já morreram.
Mas apesar de ser filho de Garrincha e torcer para o clube de seu pai, o Botafogo, Lindberg destacou não ter herdado talento para o futebol. O sueco, que já foi técnico e hoje vende cachorros-quentes em um quiosque na praça de Halmstad, na Suécia preferiu jogar a responsabilidade pela continuação do sucesso do pai nos gramados em um de seus quatro filhos, Martin, de 16 anos.
Martin já atua, como meia ofensivo, nas divisões de base de um dos principais times de futebol da Suécia, o Halmstad B.K. Tímido, pouco falou sobre o parentesco com Garrincha, mas não deixou de expressar o seu amor pelo futebol brasileiro. Em seguida, a confraternização no aeroporto foi encerrada com um bate-bola entre todos, inclusive, com a participação dos sobrinhos brasileiros de Lindberg: Rafael, Aline e Luã.
"Acho que o Martin tem muito do meu pai e tudo para ser o herdeiro dele", falou Lindberg que, apesar de ter comprovado a parternidade de Garrincha em um exame de DNA, ainda não ingressou na Justiça Brasileira para ser reconhecido e obter o direito de usar o sobrenome do pai famoso. "Sei que cada dia aqui vai ser muito especial. Lá na Suécia tudo era uma ilusão. Depois, no avião, senti uma coisa forte, que não sei expressar e agora, está tudo fantástico."