Basta um aumento de 10% no número de pacientes que aguardam transplante de órgãos, sem o aumento da oferta, para que as filas de espera no País entrem em colapso. A conclusão é de um estudo do economista Alexandre Marinho, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Apesar de hipotética, a projeção não é absurda. Nos últimos cinco anos, a fila cresceu 56% – de 43.581 pessoas para 68.195. E a tendência é continuar aumentando por causa do envelhecimento da população, da maior incidência de doenças crônicas e da maior precisão de diagnósticos.
Segundo a pesquisa de Marinho, o Sistema Nacional de Transplantes – segundo maior do mundo, com gastos de mais de R$ 500 milhões por ano financiados pelo SUS – opera num tênue estado de equilíbrio. Em 2005, cerca de 16 mil transplantes foram realizados, enquanto 66.263 pessoas aguardavam nas filas. Hoje são mais de 68 mil, com tempo de espera que pode passar de cinco anos, dependendo do órgão.
Entre as explicações identificadas no relatório do Ipea para a situação caótica do sistema estão o baixo índice de aproveitamento de órgãos e a falta de incentivos às equipes de transplantes. ?Mais de 70% são feitos em hospitais universitários, que sofrem de graves problemas de recursos e gestão.? Completam o diagnóstico a má gestão de filas e a falta de normatização dos critérios de espera (para alguns órgãos, vale a ordem de chegada; para outros, a gravidade do caso), e a subnotificação das mortes encefálicas. ?O Brasil aproveita só 20% dos órgãos disponíveis. Os EUA, 50%?, diz Marinho.
O Estado mostrou ontem que só 11 das 27 unidades da Federação realizam transplante de fígado, o que obriga os pacientes a deixar suas cidades e migrar para onde há equipes credenciadas. Eles chegam a ficar mais de um ano longe de casa.