Figura decorativa

Uma das personalidades de maior peso e envergadura moral do longo período de resistência à ditadura, um dos poucos homens públicos ainda na ativa a ostentar no currículo participação efetiva no governo João Goulart, deposto em 1964, o atual ministro da Defesa, Waldir Pires, sofre um mesquinho processo de corrosão da imagem cultivada em mais de quarenta anos de percurso.

O político baiano, um dos raros a enfrentar e responder no mesmo tom as diatribes do recém-falecido Antônio Carlos Magalhães, dando azo a um desassombro que na maioria das vezes permanecia e permanece velado por aparente fragilidade, para dizer o mínimo, é mais uma das vítimas do absenteísmo governamental em setores cruciais para a vida nacional.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo o noticiário, já fez a opção preferencial pela exoneração do ministro da Defesa, devendo consumar o ato até o final da semana, caso o próprio auxiliar não tome a iniciativa de deixar a função, para a qual não teve o menor respaldo funcional e operacional a fim de implantar um projeto de trabalho compatível com as expectativas da sociedade.

Todos sabem que os comandantes das Forças Armadas, por assim dizer os antigos ministros do Exército, Marinha e Aeronáutica, somente se reportam ao ministro da Defesa de forma protocolar e na reduzida margem do cumprimento de obrigações rotineiras. O titular da Defesa jamais foi ouvido em assuntos internos das três armas, sobretudo, na elaboração dos respectivos orçamentos, campo em que seu pensamento teria de forçosamente ser levado em conta.

Todavia, o presidente da República não soube (ou não teve vontade) de romper a espessa carapaça que envolve o comando militar, contribuindo para transformar o ministro da Defesa, além de tudo um civil, num rosto a mais no retrato claramente desfocado pela presença de tantos basistas tardiamente convertidos ao credo do petismo de resultados.

Resta ao ex-governador Waldir Pires, para honrar a invejável folha de serviços prestados à nação, retirar-se com a dignidade dos homens beneficiados pelo caráter sem jaça. Sua presença no governo passa a ser uma nódoa curricular.

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