Ficha limpa

Nessa luta do brasileiro de tentar, de quatro em quatro anos, dar empregos a deputados e senadores competentes e honestos, acabam de acontecer fatos relevantes. Qualquer do povo, e são tantos nos dias de hoje, que esteja desempregado e procure uma vaga, tem de apresentar dezenas de atestados de idoneidade, vacina e coisas que tal. Precisa ainda mostrar competência e disputar com outros candidatos, alguns empurrados por pistolões. E muitos dos desempregados em busca desesperada de um ganha-pão têm defeitos congênitos, como idade considerada pelo empregador como madura demais ou verde ainda, e não poucos são rejeitados por não terem o que eles chamam de boa aparência. Aí entram até os preconceitos e as preferências por ?patricinhos? que julguem bonitinhos. São mais os que ficam de fora do que os que conseguem empregos. E todos os vitoriosos, que são sempre menos do que os que necessitam, têm de se sujeitar a salários minúsculos, o que já parece uma bênção para que não morram de fome.

Mas para conseguir o emprego bem remunerado de parlamentar, seja de deputado, senador ou mesmo vereador, nada disso é necessário. Não é preciso apresentar folha-corrida e bom conceito e a pré-seleção dá preferência aos diplomados na malandragem.

Agora, surgem fatos relevantes prenunciando uma possível mudança. Numa atitude corajosa, embora lógica e que nos parece poderia ou deveria ser tomada há muito tempo, a Justiça Eleitoral carioca acaba de barrar candidaturas de políticos de má-fama. Está barrando, liminarmente, a inscrição daqueles que não provam ser honestos e contra os quais ainda existem denúncias, fatos ou suspeitas fundadas de que são malandros. Suas excelências, mas malandros. Usam colarinho branco, mas são marginais de gravata. É possível que os barrados no baile das eleições vão protestar e recorrer às instâncias superiores da Justiça. É certo que encontrarão escora numa legislação que, refletindo a injusta composição da nossa sociedade, protege os poderosos, os mafiosos e aqueles que buscam altos empregos públicos, empregados pelo povo através do voto, para continuar enriquecendo ilicitamente. Os candidatos malabaristas, capazes de tudo para subir no poleiro e nele permanecer, sem pôr nenhum ovo para alimentar o povo, mas sempre capazes de cacarejar e engordar com o milho que não plantam, mas roubam dos patrões, a sofrida sociedade brasileira, começam a ser barrados.

A Justiça Eleitoral carioca está dizendo que malandro não entra e, oxalá, seja imitada por outros tribunais e juízes eleitorais. Tememos que os malandros vençam essa parada, mas será um passo heróico para começarmos a mudar as regras do jogo. Para que os partidos políticos comecem a estabelecer regras mais decentes para selecionar os candidatos. E o que nos parece uma solução definitiva: fazer leis que co-responsabilizem os partidos pelas negociatas de seus políticos. Se apresentar candidato malandro, que o partido seja com ele condenado, sofrendo penas que podem ir de perdas de mandatos, multas e até fechamento de siglas partidárias que funcionam como verdadeiras arapucas ou máfias.

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