O ministro Paulo Bernardo, encarregado pelo presidente Luiz Inácio para coordenar as ações de planejamento da administração federal e, em paralelo, acompanhar a execução do Orçamento da União é, antes de tudo, um homem de boa vontade.
Quase se poderia parafrasear o imortal Euclides da Cunha na clássica definição – muitíssimo contestada, aliás – que o sertanejo é antes de tudo um forte.
Pois o resistente ministro afirmou com todas as letras que o Orçamento de 2006 somente será aprovado lá pelo meio do ano, mesmo assim se o Congresso retomar as discussões sobre a matéria no mês de março.
Diante de revelação tão franca, sintomática de uma administração enredada num cipoal de contrariedades e sem a menor vocação para a disciplina burocrática, cabe à sociedade a frustração de acompanhar o desfecho melancólico de um governo que reavivara a esperança do povo brasileiro.
Por mais boa vontade que tenha o ministro do Planejamento, sua recente declaração é uma peça digna da melhor ficção, porquanto nessa visão um tanto quanto descolada da realidade o governo deverá investir, este ano, a quantia de R$ 18,5 bilhões.
E a saída para a antecipação será a negociada diretamente com os parlamentares da base aliada e da oposição, segundo Bernardo, em pleno andamento desde outubro do ano passado. Ora, com um facilitário dessa objetividade à disposição, o Orçamento aprovado, como recomenda o modelo jurídico, passa a ser um dado irrelevante no decepcionante enredo da administração federal.
Bernardo e a nação sabem que estamos em ano eleitoral e, para início de conversa, o ministro enfatiza que há R$ 10 bilhões quentinhos, saindo do forno, prontos para serem gastos. O aperitivo serão imediatos R$ 414 milhões para as prefeituras de Recife, Salvador, Fortaleza e Belo Horizonte gastarem em infra-estrutura e melhoria do transporte público.
A Prefeitura de São Paulo, nas mãos do tucano de alta plumagem José Serra, levará R$ 75 milhões para implementar o projeto Fura-Fila, por coincidência, somente lembrado às vésperas de eleição.
Exemplo de abnegação, patriotismo e visão estratégica deu-se na aprovação pela Câmara da MP 266/05, liberando R$ 673,6 milhões para a operação tapa-buracos, que ninguém é louco de pedra de ficar de fora em ano de campanha política. O próprio presidente não tem nenhum impedimento de tratar o assunto como argumento eleitoreiro.
É por aí que a coisa vai…