O governo tem comemorado ruidosamente alguns sucessos. O PIB – Produto Interno Bruto aumentou e as expectativas é de que aumentará ainda mais. Esse negócio de PIB é de difícil compreensão, pois seria, em última análise, tudo o que se produz no País. Há uma metodologia para fazer esse cálculo e, por mais precisa que seja, está mais sujeita a erros e desvios que a acertos. Grosso modo, o que o Brasil produz, traduzido em reais, tem uma divisão tripartite. Uma parte, a maior, de quase 40% (falam em 37%), fica com o governo, ou melhor, os governos, pois temos três, o federal, o estadual e o municipal. E, para o azar de muitos brasileiros, muitas vezes nenhum deles funciona. Ou não funciona a contento em favor do cidadão. Poder-se-ia dizer que a segunda maior parte fica com a atividade produtiva, o empresariado rural, industrial e de serviços e esta, juntamente com o governo, repassa o que sobra para o povo, formando uma enorme massa salarial que, dividida pelo número de cidadãos que vivem neste imenso Brasil, dá uma ninharia para cada um. Em última análise, tudo é produzido pelo povo.
Se pudéssemos somar, com alegria, porque vendo bons resultados, o que o governo nos oferece como paga dos impostos e outras formas de arrecadação e os salários e vencimentos, e disso resultasse um número capaz de oferecer bem-estar, estaríamos batendo palmas. Mas o que o governo nos devolve é pouco e de má qualidade. O que o patrão paga é mínimo, provavelmente não porque esteja louco por tirar do nosso bolso mais lucros, mas em razão de que paga altos juros e impostos.
Enfim, o PIB cresce e a massa salarial diminui. O brasileiro paga cada vez mais para receber cada vez menos. E há ainda o problema da inflação, que mais se faz sentir no supermercado e no serviço público. Sobem a luz, a água, os transportes, enfim, os serviços que o governo nos oferece ou controla. E quem está ganhando ou deixando de perder nessa confusa conta? Os nossos credores, que podem ser bancos, financeiras, governos estrangeiros e instituições multilaterais e estrangeiras.
A nossa mesada está muito pequena em relação à nossa contribuição e, principalmente, em razão das nossas necessidades. E de nada vale mostrar a inocentes e maltratados cidadãos que temos algumas dezenas ou mesmo centenas de marajás, pois se pegarmos o dinheirão que ganham e dividirmos entre os que pouco recebem, não dará sequer um tostão a mais para cada um dos mais pobres. Os que ganham demais existem, mas são uma minoria. Privilegiada, mas minoria.
A renda dos brasileiros atingiu a maior queda dos últimos seis anos e o desemprego atingiu 8,5%, conforme o IBGE. Recordemo-nos que o desempregado soma zero na massa salarial, mas como brasileiro entra na divisão. De acordo com a PNAD (Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios) do IBGE, a retração sofrida pela economia brasileira, no primeiro ano do governo Lula, que foi de 0,2%, aumentou a queda de renda e o desemprego. De 2002 para 2003, a remuneração média real das pessoas com rendimento do trabalho caiu nada menos de 7,4%.
Quem ganhava em média R$ 747 em 2002, passou a ganhar em 2003 R$ 692. E as mulheres ganham ainda muito menos que os homens. A conclusão a que se chega é que, se for verdade que o Brasil voltou a crescer, está aumentando o seu PIB, está sendo feito no rumo certo. Certo para pagar os credores e não para melhorar a vida dos trabalhadores.