Fiat e GM: casamento à vista

Os rumores sobre a possível venda das montadoras de automóveis do grupo Fiat para a GM cresceram após a morte do presidente Gianni Agnelli. Diante desse cenário, a mudança da motorização da família Palio vai dar o que falar. O tradicional motor italiano 1.6 16V, com potência máxima de 106 cv e torque de 15,1 kgfm, foi substituído pelo 1.8 8V nacional da Powertrain, com três cavalos-vapor a menos, mas com torque significativamente maior (17 kgfm), a um regime mais baixo de rotação. Para quem não entendeu o que uma coisa tem a ver com a outra, vale lembrar que a fábrica de motores Powertrain é uma joint-venture entre a Fiat e a GM. O novo motor do Palio é exatamente o mesmo que equipa o Corsa.

Com dívidas de quase US$ 6 bilhões, o grupo Fiat está mergulhado numa das piores crises de sua história. Uma das saídas em estudo é a venda da Fiat Auto para a GM. No dia da morte de Gianni Agnelli, que se opunha à transação, as ações da Fiat subiram nas bolsas. A gigante americana, além de ser dona de marcas tradicionais em seu país, tais como Chevrolet, Cadillac, Pontiac, Buick e GMC, já absorveu montadoras tradicionais da Europa. As mais conhecidas são a Opel, na Alemanha, e a Vauxhall, no Reino Unido. No Brasil, onde a GM decidiu pôr a marca Chevrolet em todos os seus veículos, toda a linha segue os modelos da Opel, desde o Corsa até o Omega, passando pelo Astra e pelo Vectra. O velho Chevrolet Monza, por exemplo, era o Opel Ascona em terras germânicas e o Vauxhall Cavalier para os súditos da coroa britânica. Já o Chevrolet Opala era o Opel Rekord dos teutônicos. O Chevrolet Kadett era o Opel Kadett e o Vauxhall Astra. E o Chevette era uma versão setentista do Kadett (cuja origem remonta aos anos 30).

Espera-se que, se for mesmo concretizada, a venda não signifique o fim da Fiat, mesmo porque a filial brasileira da montadora está no azul. Mais do que isso, foi líder de vendas por dois anos consecutivos. É a única unidade da Fiat que dá lucro em todo o mundo. E seus carros estão entre os mais modernos do mercado. Nem de longe lembram o tosco 147, com seu bisonho câmbio de engates duros e imprecisos, que marcou a estréia na empresa no mercado brasileiro, em 1976. Hoje, a empresa tem modelos de vanguarda como o Brava, um dos mais belos automóveis já fabricados no País, e o Stilo, que dá um show de refinamento tecnológico. Este último, diga-se de passagem, foi o primeiro Fiat equipado com motores Powertrain (1.8 com cabeçotes de 8V e 16V), nas versões básicas.

Por estar numa confortável posição de líder de mercado, a Fiat também não deverá passar pelo calvário que a Ford enfrentou após a fracassada associação com a Volkswagen, na extinta Autolatina. A sociedade deu à Ford propulsores mais modernos para equipar o Escort e o Del Rey. Mas a montadora americana perdeu personalidade e despencou para a quarta colocação nas vendas.

Ari Silveira (ari@pron.com.br) é chefe de Reportagem em O Estado

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