O presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu arregaçar as mangas e trabalhar pela eleição do senador José Serra ao Palácio do Planalto. Depois de passar dois dias em um trabalho de formiguinha, nos bastidores, telefonando para governadores e políticos aliados, Fernando Henrique abriu as portas do Palácio da Alvorada e “montou um palanque” para defender a candidatura tucana.
As articulações envolveram políticos de todos os partidos aliados e incluíram até mesmo uma longa conversa com o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, e com o governador eleito de Minas Gerais, Aécio Neves, e o governador e senador eleito pelo Ceará, Tasso Jereissati.
Após se reunir por pouco mais de meia hora com Fernando Henrique, no Alvorada, Aécio Neves declarou que “o presidente está absolutamente engajado nesse processo pela eleição do senador José Serra, da mesma forma que todas as lideranças regionais do partido”. Na opinião de Aécio Neves, “o segundo turno é um novo tempo e que servirá para aprofundar a discussão de idéias”.
O governador eleito disse ainda que “é preciso aprofundar as propostas de cada candidato e mostrar as profundas divergências que existem entre elas”. Tanto Aécio, quanto Fernando Henrique, de acordo com o governador eleito, estão “à disposição da campanha de Serra”.
As declarações de Aécio Neves são uma prova concreta de que as articulações promovidas pelo presidente já surtiram efeito. Muitos dos aliados que se mostravam tímidos e estavam querendo evitar oferecer apoio ostensivo a José Serra, como o próprio Aécio, mudaram de postura.
Mas o presidente quer muito mais do aliados. Quer que ele também ajude a reverter afirmações consideradas desastrosas, como a do seu vice, Clésio de Andrade, do PFL, que já avisou que a sua tendência é de apoiar o candidato petista, Luiz Inácio Lula da Silva.
O Palácio do Planalto quer evitar que distorções como essas possam provocar estragos na campanha de Serra e tentará conter os dissidentes pedindo, no mínimo, silêncio por parte deles. Aécio foi convocado também para ajudar a melhorar a situação de Serra, em Minas Gerais, onde o petista obteve o dobro da votação do tucano.
Este trabalho de mobilização de Fernando Henrique terá prosseguimento em São Paulo, onde o presidente passará os dois próximos dias, podendo até mesmo estender a sua permanência na capital paulista, caso considere ser necessário estar mais perto do centro da decisões.
O presidente está convencido de que pode ajudar Serra, e muito, e acredita que os organizadores da campanha já tenham percebido isso. Por isso mesmo, estando mais perto, em São Paulo, acredita que poderá influenciar um pouco mais nas decisões de campanha, embora não queira se impor.
Na sexta-feira, quando irá inaugurar o Rodoanel, Fernando Henrique usará seu discurso para defender não só Serra, como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, como o seu próprio governo. Hoje, aliás, ele sentiu-se mais fortalecido ao ter de volta ao seu lado o fiel escudeiro, Arthur Virgílio Netto, eleito senador (PSDB-AM), que depois de se reunir com o presidente no Alvorada saiu avisando que nenhuma nova acusação ao presidente ficará sem resposta. “Nem agora, nem depois”, disse Virgílio, que disparou críticas a Lula, lembrando que “se ele perder, ele passa a ter a felicidade pessoal de poder continuar delirando, se ele ganhar, vai ter de se dedicar ao mundo real e concreto das verdadeiras limitações do governo”.
Críticas
Mas o presidente recebeu ainda dois aliados que poderiam atrapalhar os planos de Serra, com seus apoios e críticas. Trata-se do senador eleito Romeu Tuma, que já foi cotejado pelos petistas e que ameaçou mudar de lado por se sentir alijado e mal tratado pelos tucanos, e o prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, que em maio deste ano chegou a anunciar que até maio a candidatura Serra teria implodido. Fernando Henrique se reuniu ainda com o deputado eleito e ex-ministro da Reforma Agrária, Raul Jungmann.
As articulações do presidente, que se iniciaram na segunda-feira, já haviam se intensificado na noite de ontem, quando Fernando Henrique conversou com os presidentes do PFL, Jorge Bornhausen, e do PSDB, José Aníbal. As conversas com o governador cearense Tasso Jereissati, eleito senador, também foram frutíferas para o candidato tucano.
Hoje, Tasso, que chegou a disputar com Serra a sua indicação para concorrer à Presidência e boicotou o tucano durante toda a campanha, dizia que vai subir no palanque de José Serra (PSDB) quando o tucano fizer campanha no Ceará. Assegurou ainda que, no que depender dele, Serra vai vencer a disputa no Estado porque vai mobilizar a estrutura do partido para apoiá-lo, explicando que sua única limitação para fazer a campanha do tucano é a necessidade de trabalhar no Estado pela eleição de Lúcio Alcântara (PSDB) ao governo.
Tasso se dispôs até mesmo a ajudar Serra a conquistar o eleitorado de Ciro Gomes (PPS), derrotado no primeiro turno, embora Ciro tenha declarado apoio ao petista Luiz Inácio Lula da Silva.