Os resultados das eleições de outubro são uma incógnita. Incógnitas, também os prognósticos, se bem que parece certo que haverá um segundo turno. E que no segundo turno estará Lula. Quanto ao seu contendor, parecia que seria Ciro, mas hoje crescem as possibilidades de que seja Serra. Ciro despencou nas pesquisas e Serra cresceu, mercê da má língua do primeiro e da melhor performance do segundo nos programas gratuitos de televisão e rádio. Há no grupo de Ciro quem queira ver sangue, o debate com Serra transformado em verdadeira guerra. Mais ainda, que se insista que o ex-ministro da Saúde é um candidato governista e que, por isso, mereceria o repúdio do eleitorado. Esta tese é duvidosa, já que o que resta de prestígio do governo, e o que ainda pode conquistar até o pleito, pode até decidir as eleições.
Lula e Serra no segundo turno, torce o presidente FHC. Mas, se não acontecer e, no segundo turno, estiverem Lula e Ciro disputando os votos do eleitorado, tanto o presidente quanto José Serra apoiarão Lula. Eles preferem o candidato petista ao trabalhista, que abominam por diversas razões. No final de julho, o presidente Fernando Henrique Cardoso mandou um mensageiro com um recado direto e claro a Luiz Inácio Lula da Silva: se der Lula e Ciro Gomes no segundo turno, ele não só vai apoiar, mas também trabalhar para a vitória do candidato petista. “E não sou só eu. O Serra também”, acrescentou FHC. Isso aconteceu quando Lula lançou seu programa de governo no Congresso, em Brasília. FHC foi cauteloso, dizendo que sabe da resistência de alguns setores petistas a um apoio seu a Lula e que esperaria que o próprio candidato dissesse onde e como quer ajuda.
Por que esta possibilidade de apoio de FHC e Serra a Lula?
O presidente da República considera Ciro um representante de “certas forças retrógradas”. Disse-o numa conversa com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Na época, as forças retrógradas eram representadas pela candidata Roseana Sarney, que acabou renunciando depois de sofrer um bombardeio de denúncias. Fernando Henrique faria restrições a Serra por questões de caráter, quanto ao ponto de vista político e por considerar sua eleição a volta das oligarquias. “Ciro tem todos os defeitos de Serra e nenhuma de suas qualidades”, disse FHC. Explicou que o considera arrogante e prepotente, mas sem o brilho intelectual, a disciplina, o conhecimento da máquina e uma equipe azeitada como Serra. Sobre quem cerca Ciro, lembrou, com o nariz torcido, que o ex-governador do Ceará tem apoios como o de Antônio Carlos Magalhães, Leonel Brizola e José Carlos Martinez. Velhas oligarquias e velhas raposas.
Recentemente, quando o presidente da República logrou reunir-se com todos os principais candidatos à sua sucessão para discutir a situação econômico-financeira do País e o acordo com o FMI, o único ao qual dedicou um bate-papo em particular foi Lula. O que conversaram, ninguém sabe. Mas lembremo-nos de que Lula e FHC já ocuparam os mesmos palanques nas lutas da esquerda contra a ditadura militar, que a ambos perseguiu. No passado, foram mais que amigos. Foram companheiros de lutas, embora FHC sempre fosse menos radical que o candidato petista. E estão novamente unidos, desta vez contra Ciro, caso Serra não chegue ao segundo turno.