O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que se surpreendeu com a reação à carta aberta que publicou no site do PSDB na semana passada, com críticas ao governo Lula e ao seu partido. "Simplesmente, ninguém leu a carta", resumiu FHC, em conversa com o jornal O Estado de S. Paulo, logo após participar de um seminário em Bariloche, na Argentina. A carta, disse ele, é um documento interno do PSDB e teve o objetivo de marcar uma posição e despertar o partido para que "traga a verdade à população com firmeza, transparência e veemência".
FHC diz ter certeza de que "o povo quer ouvir a verdade". Deixou evidente sua inconformidade com a apatia generalizada do eleitorado nas eleições e sua especial irritação com a estratégia do "somos todos iguais", adotada pelo presidente Lula e pelo PT para superar as acusações dos escândalos de corrupção. FHC lembrou que tem dito com freqüência a frase "eu não sou igual a eles".
Ele cobrou, também, que o PSDB reflita sobre sua conduta e pergunta-se: "O PSDB errou lá atrás? Errou de novo na campanha, ao não transmitir ao eleitor a real dimensão da crise no Congresso?" E ele mesmo responde, cobrando o debate: "Pode ser que sim, não sei. O que digo é que temos de debater o que está acontecendo e olhar para o futuro, agir com as nossas convicções e de acordo com nossas consciências.
O ex-presidente afirmou que não teve intenção de criticar o governo Geraldo Alckmin pelos problemas de segurança pública em São Paulo. "São Paulo não conseguiu dar tratamento adequado à massa de presos, mas isso aconteceu porque a União não repassou os recursos orçados para o Estado.
Ele acha que a maior parte das pessoas reagiu sem ler a carta com cuidado e isso aconteceu, também, com um dos criticados pelo documento, o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), que era presidente do partido quando foi acusado de fazer caixa 2 na campanha de 1998, sendo defendido por muitos tucanos. "Ele reagiu sem ler a carta com cuidado", disse FHC.
Ele explicou também que não quis culpar ex-ministros das Minas e Energia em seu governo, todos do PFL, pelo apagão. Explicou que a má gestão a que se refere na carta foi do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), responsável pelo monitoramento do nível das águas, ao qual, segundo ele, cabe a culpa pelo fracasso das privatizações no setor elétrico, que também cita na carta.