O ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso garantiu nesta segunda-feira (30) que não se arrepende de ter instituído o mecanismo da reeleição no Brasil. Questionado por empresários que participaram do almoço-debate promovido pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide), FHC aproveitou para criticar seu sucessor, o presidente reeleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Não me arrependo de ter instituído a reeleição. Mas nunca pensei que um presidente pudesse abusar tanto do poder como abusou o presidente Lula", disse.
Na avaliação de FHC, para evitar tais abusos, o ideal seria a desincompatibilização do governante em exercício quatro meses antes do pleito. E admitiu que quatro anos de poder é muito pouco para se colocar todos os projetos em prática. "Em quatro anos não se faz nada", citou.
Ainda na palestra aos líderes empresariais, FHC questionou a declaração dada ontem por Lula de que ele irá governar para os pobres. "Ele tem de governar para todo o Brasil, para os ricos e para os pobres, pois as oligarquias também votaram nele", frisou sob aplausos da platéia.
O ex-presidente tucano questionou também a afirmação de Lula de que pretende governar sem oposição. "Numa democracia, quem ganha não deve cooptar os outros para o seu lado", considerou, destacando que em um país democrático, quem perde as eleições tem o dever de fazer oposição e de criticar. Mas também deve apoiar as questões essenciais. "O PSDB não tem o mesmo ideário do PT, mas isso não quer dizer que não vamos apoiar alguns tópicos", citando especificamente a reforma política.
Ao falar da reforma política, FHC disse que seu partido tem pontos distintos do que o governo vem pregando. "É fácil dizer, mas dificílimo de implementar". Ao falar da defesa que a oposição faz da lista fechada, ele alfinetou: "Isso tem o germezinho autoritário, coisa que o PT gosta. Nós preferimos o voto distrital, no sistema misto, porque fica mais próximo do eleitor", disse.
Sobre a proposta de governabilidade propagada por Lula, FHC disse que essa conversa não precisa ser feita no Palácio do Planalto. "Ela é pública, e quem tem as pedras brancas (que, num partida de xadrez, iniciam o jogo) é o governo", declarou.